sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal de 1948 - As minhas primeiras férias

Mais uma das minhas odisseias!

Já vos massacrei com a minha primeira odisseia, (viagem de São Teotónio até Beja em Outubro de 1948). Agora punha-se o problema ao contrário: como chegar de Beja até São Teotónio?

O primeiro Natal em Beja, foi, de facto, uma grande chatice. Por mais graça que se ache ao Menino e às canções dos pastores e dos anjos, aquilo era mesmo saturante, para não dizer degradante: retirar todas aquelas crianças ao convívio das suas famílias precisamente na época que diziam consagrada à família. Agora era aquela a nossa família e ali tínhamos de permanecer para abrilhantar as cerimónias da Sé e integrarmo-nos naquele ambiente mais ou menos monástico e celibatário, até ao almoço do dia 25, dia de Natal. Só então era dada a ordem de saída para as sonhadas férias e primeira viagem até às terras de naturalidade de cada um.

A mim coube-me portanto seguir para São Teotónio. O comboio era o único meio disponível e o comboio-correio era uma boa opção porque havia a grande incógnita de como chegar da estação até Odemira, (30 Km bem medidos e 365 curvas muito mal desenhadas), mas se vieramos na carroça do correio, (mala posta), tambem agora poderíamos utilizar esse precioso meio de transporte.

Saídos de Beja por volta das 21 horas, o Zé Pincho e eu, aí fomos percorrendo a planície naquele comboio desconfortável que também levava o correio, em direcção ao Algarve. Depois de parar em todas as estações e apeadeiros, demorando mais tempo na Funcheira, sabe-se lá porquê, finalmente retomou a marcha e, pelas duas ou três da madrugada, passado o túnel de Vale de Iscas, parou na nossa estação de destino - Odemira/Luzeanas Gare.

Só então nos apercebemos de que as malas que trazíamos eram enormes e pesadas, quando pensámos transferí-las para o carro da Mala Posta. Saímos do comboio e a primeira preocupação foi procurar a bendita Mala Posta, (carroça do correio, dizíamos nós).

A estação era iluminada por uma lanterna a petróleo fixada numa parede, isto na sala de espera porque na plataforma de embarque era apenas a lanterna do agulheiro ou do Chefe da estação que dava partida ao comboio.

Saindo o comboio as lanternas eram apagadas para não gastar petróleo porque o tempo era de crise, mas isso não foi a pior notícia: mau mau, foi sabermos que a carroça, (Mala Posta), já havia partido de regresso a Odemira, sem esperar a chegada do comboio que talvez viesse atrasado, ou então porque já fora alterado o modo de fazer chegar o correio de Odemira até ao comboio, o que era verdade porque entretanto a camioneta matreira do Abel Figueiredo Luis que vinha de Lagos até Odemira, passou a seguir até Amoreiras-Gare, fazendo a ligação ao dito comboio, agora noutra estação mais acessível, apesar de todos os obstáculos naturais de ribeiras sem ponte, etc.

Que fazer agora naquele lugar inóspito, numa noite escura de breu e fria de finais de Dezembro?

Não havia alternativa, tínhamos de esperar na sala da estação até que nascesse o dia e então se veria o que fazer.

Lá nos instalámos nuns bancos horríveis que tinham uma travessa que me ficava acima do meio das costas. Nem podíamos deitar-nos nos bancos porque já estavam ocupados por outros viajantes em circunstâncias idênticas às nossas. Ali ficámos até nascer o sol ou romper as núvens negras que o encobriam. Má noite aquela!!!...

Quando o dia começou a clarear, naquele pequeno dia de inverno em que o sol dificilmente rompeu as núvens, aprontámo-nos para resolver o nosso problema: chegar até Odemira!

Mas como e por que meio se não havia qualquer transporte nem que tivéssemos de pagar? Nada! Nem burro ou cavalo ou outro meio qualquer, e nós com aqueles malarrões de viagem...

Depois de trocarmos ideias um com o outro, o Zé Pincho e eu, ambos de treze anos, mas ele mais espigadote, resolvemos meter-nos ao caminho a pé. E aí vão eles com as malas às costas: passámos a linha do caminho de ferro, entrámos na estrada de macadame, (Mack Adam), e percorremos pouco mais de um quilómetro. Quando passávamos por debaixo de uns eucaliptos na beira da estrada, começou a chover. Ainda nos abrigámos debaixo e junto aos troncos dos eucaliptos, mas a chuva era persistente e portanto resolvemos avançar mesmo assim, de corpinho bem feito, fatinho preto da praxe e chapeu de cavaleiro, (ainda não tínhamos direito ao chapeu de côco).

Assim continuámos até que a chuva parou e mais tarde voltou, molhando o que já não estava enxuto. Enfim éramos uns pintainhos debaixo de chuva.

Teríamos percorrido uns seis quilómetros e as coisas não melhoravam, antes pelo contrário.

Foi então que eu vi uma vereda que saindo do macadame pelo lado direito subia uma encosta e eu disse para o meu colega: -Esta vereda vai dar a algum sítio onde há pessoas, vamos por aqui até encontrarmos alguém que nos possa informar sobre o modo de chegar a essa maldita vila de Odemira, desterrada no fim do mundo!

Feliz decisão porque depois de passarmos o cume daquela encosta, descer a um pequeno vale e subir outro cume, (cristas militar e topográfica, como mais tarde aprenderia no estudo da topografia, por motivos profissionais), avistámos um monte na contra encosta, onde certamente haveria gente.

Chegados ali, entretanto era cerca de meio dia, batemos à porta e apareceu-nos uma senhora que, admirada, foi chamar o marido e os dois convidaram-nos a entrar, pois estávamos todos enxarcados e estafados pelo peso das malas.

Contámos a nossa estória e perguntámos como poderíamos chegar até Odemira, se não haveria um carro de muar que se alugasse, ou mesmo de burro. Felizmente minha Mãe tinha-me enviado, salvo êrro 140$00 (cento e quarenta escudos), na altura dinheiro bastante para enfrentar estas dificuldades.

A senhora mandou-nos meter na cama e pôs as nossas roupas molhadas a secar junto à lareira em que ela, o marido e os filhos se aqueciam: dormimos como dois anjos cansados!

Cerca das duas horas da tarde a senhora acordou-nos e, depois de bem comidas umas torradas e café, o senhor da casa acompanhou-nos até uma taberna existente junto à estrada de macadame uns quilómetros mais à frente, onde o taberneiro dispunha de uma charrete que alugava.

Na hora de acertar o custo da viagem até Odemira, o taberneiro, que viu ali modos de ganhar o dia que a taberna não rendera, exigiu-nos 80$00 pelo frete. Era muito dinheiro!!! E lembrar-me eu que, anos antes, meu avô comprara os Algares, (uma herdade com muita cortiça), por "quarenta e oito mil réis e uma tigela de farinha de milho todos os anos".

Mas que havíamos de fazer? Lá subimos para aquela artimanha puxada por um cavalo lazarento e metemo-nos ao caminho. Mais duas ou três horas de solavancos conforme as covas da estrada mal construída e sem conservação, com buracos aumentados pelas chuvas do inverno que decorria.

Seriam umas dezanove horas, noite cerrada, quando chegámos a Odemira. Pelo caminho fomos discorrendo o que fazer quando chegássemos: -Vamo-nos apresentar ao Padre Borralho, disse eu. E ele que nos ajudasse a resolver o nosso problema que consistia em ir para São Teotónio, mais 15 quilómetros à frente.

Assim fizemos e em boa hora, porque o Prior, como bom pastor que era, deu guarida aos seus cordeirinhos, (ainda não éramos propriamente "ovelhas nem carneiros").
Dormimos na casa paroquial e, no dia seguinte, apanhámos a tal camioneta matreira do Abel Figueiredo Luis que ía até Lagos, passando por São Teotónio.
P.S. -Não sei o nome das pessoas que nos receberam naquele bendito monte da serra da garraza, naquela situação de grande precaridade e aflição, mas o engraçado é o que se segue:
Na década de setenta, portanto cerca de trinta anos mais tarde, uma "velhota" pedinte, (destino de muitas pessoas das zonas rurais quando atingiam a incapacidade para o trabalho duro), passou pelo monte de Pègões, onde nasci e agora era lavradora minha irmã mais velha e onde era habitual dar guarida a pessoas, homens e mulheres que vagueavam socorrendo-se da generosidade dos pequenos lavradores. Havia mesmo um casarão onde recolhiam os homens, que à noite recebiam uma refeição quente e as mulheres alojavam-se no monte com o pessoal da casa.
A tal velhota, na conversa de lareira, contou à minha irmã que há muitos anos tinha recebido no seu monte dois "mocinhos" de São Teotónio que chegaram lá todos molhados e vinham de Beja, onde estudavam, etc, contando toda a história da nossa permanência no seu monte.
Quando terminou a história, minha irmã revelou à velhinha que um desses "mocinhos" era seu irmão o que causou grande surpresa e alegria. Como o mundo é pequeno!!!


domingo, 14 de dezembro de 2008

As minhas primeiras recordações do Natal

No final da década de trinta e princípios da de quarenta do século XX, a vida não era fácil para todos, mas nos meios rurais as coisas complicavam-se muito mais.
Entre as festas do calendário chamado gregoriano, a mais celebrada era o Natal, provavelmente devido às circunstâncias climatéricas em que ocorria e, vamos lá, porque era a festa da vida. Era dali que tudo começava: os dias começavam a crescer, sem que soubéssemos porquê e a salgadeira era recomposta para o resto do ano.
Depois havia a comemoração do nascimento de Um Menino chamado Jesus que vinha pela chaminé porque não cabia nos buracos do telhado nem queria arredar as telhas por causa da chuva, e deixava umas guloseimas ou pequenas prendas para a pequenada.
A semana que antecedia o Natal caracterizava-se pela ausência da Mãe, uma ou duas vezes, que se deslocava à aldeia a mais de cinco quilómetros: saia de manhãzinha, montada na burra, e só voltava à tardinha, às vezes noite cerrada.
Na ida, se tinha chovido muito, a Ribeira dos Pegões levava muita água, a burra não enfrentava a força da corrente e ela tinha de ir pelo serro do “arrodeio”, passando pelo Porto das Carretas e depois pelo Mar Alto.
A Ribeira dos Pegões e a Lagoa de Água de Peixe eram sítios difíceis de atravessar quando chovia muito, por isso o trajecto era muito maior, mas o único possível.
Ao fim do dia, enquanto o Pai ajudava o vaqueiro a recolher e acomodar os animais, os meus irmãos e eu, (três ao todo), púnhamo-nos de atalaia à esquina do monte, a ver quando a Mãe aparecia no alto do Monte da Cruz ou, mais tarde e com menos visibilidade, na vereda por entre o montado da herdade: além do frio que sentíamos e do desconforto da ausência da Mãe, aspirávamos também por algum rebuçadito que nos daria ao chegar, só para calar a curiosidade, porque as prendinhas e os rebuçados ou outras pequenas guloseimas, só o Menino Jesus colocaria no sapatinho ao pé da chaminé, na noite de Natal.
Os dois dias antes do Natal, eram de grande azáfama na cozinha: a mãe e a minha irmã mais velha, às vezes ajudadas pela Vitória, dedicavam-se a fazer os fritos, (coscorões), as filhós e as azevias de grão ou de batata-doce, além dos indispensáveis sonhos, (pesadelos?).
Os homens: meu pai, meu irmão e eu, claro, entregávamo-nos ao trabalho de preparação da lenha e sobretudo do “madeiro de natal”.
Esta figura do “madeiro do natal” era muito importante, não só porque permitia fazer uma fogueira maior, produzindo mais calor na casa, mas sobretudo porque, não ardendo todo na noite de natal, o restante servia de ajuda para enfrentar e acalmar as trovoadas que se previam, especialmente as de Maio que eram as mais perigosas.
Não havia propriamente Seia de Natal. Depois de uma Seia normal, íamos cedinho para a caminha não só porque estava muito frio, apesar da lareira melhorada, mas sobretudo para não atrapalhar o Deus Menino que vinha à meia-noite depositar os presentes nos sapatinhos deixados junto à chaminé.
O Dia de Natal é que era festejado bem cedo, com a descoberta do que a cada um o Deus Menino deixara e depois as refeições melhoradas com os acompanhamentos que a Mãe preparara para o efeito.
O Presépio, era uma composição “sui géneris” feita por minha saudosa mãe, onde as figurinhas humanas de José, Maria e o Menino, eram colocadas numas palhinhas rodeadas dos animais tão nossos conhecidos como o burro, a vaca, as ovelhinhas e os porcos, tudo adornado com searinhas, (pequenos pires com sementes germinadas e crescidas até mais de cinco centímetros, antecipadamente preparados).
Estas são as memórias que guardo dos meus primeiros natais, muito pobres e modestos, mas sempre vividos com a alegria e o entusiasmo próprios das crianças.

NATAL no "Diário do Amigo de um Amigo meu"

Pousada, 24 de Dezembro de 1973.
É véspera de Natal. Antes de sair para ir almoçar com o resto da família, releio o que nestes dois dias escrevi. Foi muito bom regressar à escola, àqueles dias luminosos da infância, àquela ternura incontida de aprender a vida. Tal como é bom regressar à simplicidade dos natais antigos: o reunir da família, os fritos do costume, a ceia de batatas com bacalhau e um pacotinho de confeitos como prenda. Tudo simples e familiar.

Da mesma maneira deve ter sido simples o primeiro natal. Uma rapariga hebreia dá à luz uma criança do sexo masculino, não se sabe bem onde, se em Nazaré onde Maria vivia, se em Belém conforme tinha predito o profeta Miqueias, ou noutra terra qualquer, apesar da beleza e da quase historicidade das narrativas antigas. O que sabemos é que essa criança se tornou referência importante para os últimos dois mil anos desta humanidade peregrinante e inquieta; se tornou modelo para pintores e escultores; se tornou tema de poetas e de músicos. Por ele, derramaram seu sangue, mártires inocentes; por ele, viveram a humildade, a simplicidade e a pobreza, santos de todos os tempos; a ele consagraram a sua juventude tantos rapazes e tantas raparigas entusiasmados pela beleza de nobres ideais. As suas palavras, os seus milagres, os seus gestos simples de misericórdia foram estudados até à exaustão por filósofos e teólogos, por historiadores e sociólogos. Opiniões contraditórias debateram-se calorosamente desde o princípio. Afirmações e negações, condenações e exaltações, um pouco por toda a parte, repartem-se e discutem-se em seu nome. E, em seu nome, travaram-se guerras e acenderam-se fogueiras; em seu nome levantaram-se catedrais e condenaram-se pessoas ao exílio; em seu nome fizeram-se festas e banquetes, e morreu-se de fome.
Mas, essa criança, nascida uns anos antes da nossa era, no território palestino ocupado pelo Império Romano, permitiu que, à sua volta se tecessem as mais belas narrativas de ternura e louvor; permitiu que o reclinassem numa manjedoura aquecido pelo bafo salutar de animais e saudado alegremente por anjos e pastores; permitiu que o esculpissem nu numas palhinhas geladas, com a cara rosada de menino-bem. Depois, dão-no a beijar perfumado e nu aos devotos enternecidos, enquanto meninos outros, em todas as partes do mundo morrem de fome e de doenças evitáveis; cantam-lhe canções melodiosas, enquanto meninos outros, em todas as partes do mundo, são maltratados, violados e esquecidos nas valetas das estradas; expõem-no à veneração dos fies, enquanto meninos outros se arrastam na lama porca das vielas e se escondem amedrontados em campos minados de ódio e terror. Tristes contradições da nossa história…
Mas, essa criança pobre, filha de pobres, havia de espalhar esperança e paz entre os pobres mais pobres; havia de dar de comer aos famintos e de beber aos sequiosos; havia de louvar os mansos e os humildes, e exaltar os construtores da paz; havia de consolar os que sofrem e os atribulados; havia de dar a sua vida pela salvação de todos...
Vou almoçar…
PS.- Por amável deferência do meu Amigo, aqui fica esta referência ao Natal de 1973, no Diário do Amigo dele.

NATAL E ANO NOVO

Nesta quadra natalícia e renovação da Vida, dedico esta frase a todos os Amigos que me visitam!

Procurem ser Felizes!

sábado, 6 de dezembro de 2008

ORBIVENDAS SA

ORBIVENDAS SA, é uma Empresa Lider no seu grupo (PME), especializada na área de Equipamentos de Manutenção Industrial.

Aqui fica a imagem de uma simpática lembrança que o seu Administrador, Sr Martins Mata, distribuiu aos amigos, aquando da nossa deslocação a Cuba.
Quem estiver interessado em conhecer melhor esta bem sucedida empresa pode consultar:
www.orbivendas.pt

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

São Martinho em Grândola - 2008

Com o maior gosto fazemos aqui uma referência ao convívio de Grândola que foi muito concorrido, como se pode ver pelo referido:

"Sábado, dia 15 de Novembro - Grândola
Contrariamente ao ano transacto, que primou pelas ausências, este ano contámos com a presença física de quase 90 pessoas e a espiritual a atingir a dúzia.
Normalmente sublinhamos os ex-seminaristas e familiares que, em cada ano, tomam a seu cargo a organização dos Magusto, comemoração que já se desenrola há 30 (trinta) anos.
Este ano reforçamos este aspecto porque, para além dos 3 ou 4 “habitues” na organização, surgiram três pessoas que queremos realçar pelo simbolismo que isso representa.
Este ano com a colaboração de um não seminarista (Carlos Beato - Presidente da Câmara de Grândola), um ex-seminarista ordenado (Padre Manuel António Guerreiro do Rosário) e um ex-seminarista não ordenado (Joaquim Parreira – Sub-gerente da Caixa Geral de Depósitos de Grândola) associaram-se na parte da organização do opíparo almoço, no Restaurante “O Cruzamento”
Queremos dizer aos três: OBRIGADO porque tudo estava espectacular.
Antes do início do almoço, o Joaquim Parreira, como anfitrião e Grandolense, deu-nos as boas vindas.
O Sr. Padre Manuel António dirigiu uma oração inicial, onde evocou os ex-seminaristas de Serpa e Beja, já falecidos.
Este facto é demonstrativo do espírito que anualmente queremos partilhar e sublinhar uns com os outros: A AMIZADE E TER TODOS SEMPRE PRESENTES.
O mesmo espírito tem vindo ao longo de gerações (não se esqueçam que estamos na terceira) a cimentar-se de molde a criar laços fraternos entre nós, nossos filhos e netos, que, informalmente uma dos elementos da segunda geração (a Sofia Finote) se sentiu impulsionada para verbalizar o que lhe ia na alma e o que vai na de tantos outros dos nossos filhos.
Também não se pode deixar de sublinhar a ausência da Paula Teixeira (o que acontece pela primeira vez ao longo dos tempos) que faria um óptimo dueto instrumental com o Padre Manuel António.
Metade da receita angariada foi entregue ao Padre Manuel António destinada às obras de reconstrução da Casa Paroquial.
Como acontece todos os anos, cada um de nós traz produtos da sua região ou confeccionados por si para compor a nossa mesa de lanche.Este ano, queremos sublinhar, que os vinhos foram trazidos do Algarve pelo Olímpio Guerreiro e do Alto Alentejo pelo Nuno Penela dos Santos.
Em devido tempo e logo que publicado, traremos ao vosso conhecimento o artigo do Notícias de Beja.
Esperamos que o número de participantes seja superior em 2009, recordando, desde já, que, salvo qualquer impedimento de ultima hora, estaremos juntos em Maio no Seminário."

(clique aqui para ver as fotografias do evento)
P.S.-Com a devida vénia transcrevemos de LASB. O itálico, bold e colorido são meus.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Um dos muitos casos de sucesso

É com o maior gosto que apresentamos hoje o Diploma de certificação como Empresa Líder das PMEs, concedido a ORBIVENDAS - Equipamentos de Manutenção Industrial, SA.
Tal não teria grande interesse para nós, se o ADMINISTRADOR e principal accionista da Orbivendas não fosse o nosso Amigo e Companheiro MARTINS MATA.
Ao dinâmico e bem sucedido Empresário que, sempre que oportuno, não perde a ocasião de lembrar os bons anos de formação que passou no Seminário de Beja, onde ganhou qualidades de trabalho e conhecimentos que tão úteis lhe tem sido na gestão dos meios de produção da sua ORBIVENDAS, apresentamos as mais efusivas felicitações.
PS.- Clik sobre a imagem para aumentar o zoom!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Uma boa jornada em Cuba

De acordo com o planeado, o grupo completou-se na estação do Pragal com a entrada do Noca no comboio intercidades Lisboa-Beja. Os convivas já tinham ocupado aqueles lugares mais propícios para a cavaqueira, isto é aqueles em que os viajantes ficam frente a frente, virados para as simpáticas mesas que até dão para jogar à sueca, ao sete e meio, ou mesmo à "lerpa".

A viagem decorreu normalmente e pelas 11H30 estávamos a chegar ao destino, a airosa vila de Cuba, onde nos aguardava o incansável Antonino Mendonça. Aqui vai uma primeira foto de grupo tirada no jardim local, da esquerda para a direita: Fernando, Latas, Mata, Lourenço, Acabado, A.Mendonça, Guilhoto e Robalo.


Mais uma informal em que o Latas e o Fernando enquadram o Mata muito executivo.


A primeira homenagem foi ao escritor Fialho de Almeida, ilustre filho desta vila e aqui sepultado em mausoleu adornado com os felinos que ele escolheu para dar nome e simbologia à sua obra "Os Gatos": veja-se o topo do monumento.


De seguida, não podíamos deixar de visitar a estátua do mais ilustre filho desta terra de barro gordo: o grande navegador e oficialmente descobridor do Novo Mundo, Cristóvão Colombo.
A estátua é sugestiva, mas parece-me colocada em local impróprio, não só pela pobreza do enquadramento, mas também pela direcção em que a colocaram. Talvez para observar o ocidente, como parece ser, mas em contrapartida o monumento perde em luminosidade e resplendor. Penso que é possível melhorar as condições de apresentação desta evocação mais do que merecida.

Passámos depois pelo igreja matriz, de arquitectura regional do século XVII, muito austera, mas exteriormente alegre, como convém a uma terra alentejana.

No interior esperáva-nos o Nuno, um rapaz muito sabedor das coisas da arte, nomeadamente da relacionada com este templo que se impõe ao visitante pela sua azulejaria do século XVII, onde sobressaem os painéis laterais relativamente ao "salão", (espaço reservado aos fiéis), coberto por abóbada de canhão. No presbitério e altares laterais emerge a talha joanina, nuns casos ainda original, caso raríssimo, e noutros muito bem recuperada e até, do lado esquerdo, um caso de acasalamento, muito bem conseguido, de vários elementos trazidos de outros monumentos irrecuperáveis da região.

Aqui os visitantes ouvem as explicações muito completas e clarificadoras do Nuno e admiram os painéis de azulejos seiscentistas encravados nas grandes paredes adornadas igualmente de azulejos da mesma época.

Após visita ao espólio constituido por parte do riquíssimo e volumoso acervo de peças sacras e outros artigos de uso nas cerimóneas religiosas da Igreja Matriz, seguiu-se naturalmente o repasto no "Chave de Ouro", onde uma irritante avaria da máquina, por falta de pilhas, não permitiu guardar as imagens iniciais. Aqui temos o Robalo, o Lúcio e o Guilhoto numa fase já adiantada do ágape.

Aqui o Fernando e o Mata, consultam já os seus telemóveis, para saber dos últimos contactos tentados ou conseguidos por sms.

Entretanto o Lourenço dá as últimas instruções ao Robalo sobre o modo como irá decorrer a viagem de regresso, recomendando-lhe que não deixe de transmitir os seus conhecimentos sobre vacaturas e peenchimento das cátedras episcopais portuguesas, assunto em que se vem revelando o maior "expert" das nossas relações.

Em seguida, após uma passagem pelos pontos mais significativos da vila, com obra realizada pelo Poder Autárquico e visitadas algumas capelinhas típicas, para comprar souvenires, sobrando algum tempo, demos um salto à Horta do Lúcio, onde fomos recebidos, em festa, pelo seu Rafeiro Alentejano, um exemplar com grande e imponente presença. Já caira a noite permitindo ver ao longe a iluminação da cidade de Beja, quando dali nos saimos directamente para a estação do Caminho de Ferro, para dar início à viagem de regresso. Mais duas horas de cavaqueira, eu diria de monólogo em que o Robalo deliciou os seus pares com uma exposição "sui generis" sobre bispos, arcebispos e cardeais e outras coisas mais, tais como, cátedras e sedes, vacantes e proeminentes, antigas e recentes, bem como as circunstâncias de vacatura e provimento que as tem envolvido, desde tempos muito remotos

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vamos todos a Cuba

É já amanhã Companheiros! Com saída do Pragal pelas 09H35, o Intercidades levar-nos-á até à linda vila de Cuba, onde faremos o nosso convívio das últimas quartas-feiras de cada mês.
Ali encontraremos alguns amigos da região alentejana, nomeadamente de Beja e Vidigueira.
Até lá, boa viagem!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Morrer lentamente

Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê, quem não ouve musica,
Quem destrói o seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
A um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando esta infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
Exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

PABLO NERUDA

Eu conheço um País

Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso
In Revista Exportar
"Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém- nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores. Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados. E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais. E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).
Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.
Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência. E que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial. E que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça. E que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis. E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. E que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis. E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.
O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive - Portugal. Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Chamam-se, por ordem: Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.
E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).
É este o País em que também vivemos.
É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - e não invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha.
E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito. Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons ser também seguidos? "

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

São Martinho em Grândola

Com muita pena minha não pude comparecer.
Espero que tenha sido um grande dia de convívio.
Ao Companheiro Finote solicito que, se tiver, e terá certamente, me envie algumas fotos mais sugestivas, para publicar neste blog, que considero "nosso".
Já visitei o site "LASB" e não encontrei nada..........

O modêlo do ensino em Portugal

Dada a acuidade do assunto e enquanto notícias sobre o São Martinho de Grândola não aparecem, aqui vai um ponto de vista sobre o problema muito candente do momento, que respiguei do "JUMENTO", com a devida vénia!
"O actual modelo de ensino em Portugal está esgotado, incapaz de produzir os resultados que a mudança do mundo exige. Foi bem sucedido na resposta à massificação do ensino mas incapaz de produzir a qualidade exigida por um mundo mais competitivo. Não vale a pena dizer que a culpa é dos professores, das políticas, dos ministros, dos pais, a culpa é de um modelo aberrante que apenas serve os que vêm no ensino o último reduto, a última das reformas agrárias.
Em vez de discutirmos a qualidade do ensino falamos da avaliação dos professores, em vez de nos preocuparmos com os alunos esgotamos as energia a discutir o estatuto dos professores. Isso não sucede por acaso, o ensino tem sido gerido em função dos professores. As associações de pais servem para gerir os ATL, os alunos não são representados por ninguém e os professores são o único grupo de pressão.
Quando se questiona a solução para melhorar a qualidade do ensino os sindicatos dizem que passa por melhorar a situação dos professores, quando se questiona o modelo de gestão das escola os sindicatos defendem a gestão democrática das escolas pelos professores, quando falamos da abertura do ano escolar os sindicatos defendem turmas mais pequenas para empregar mais professores. Tudo passa pelos professores, porquê?
Imagine-se que um jovem professor de Silves que deseja ficar na sua terra é colocado numa escola de Silves, imagine-se que fez um excelente trabalho e gostaria, tal como o conselho directivo, de continuar a trabalhar com o mesmo grupo de alunos. Só que isso não é possível, a vaga que ocupou e muito provavelmente será ocupada por outro professor, que até pode ser do Sabugal mas como tem mais uns pontos ficou à frente no concurso. O nosso professor de Silves fica no desemprego e no seu lugar fica um outro desmotivado pela distância. Ainda antes das aulas começarem a TVI vai acompanhar o novo professor na sua primeira viagem, ficamos a saber que a esposa está colocada numa escola do Minho, que têm dois filhos ao cuidado dos avós e que o dinheiro mal dá para a gasolina.
A jornalista da TVI não questionou os alunos que perderam o professor de que gostavam, nem o que vai suceder durante as semanas de atestado, nem entrevistam o conselho directivo para que este lhes conte histórias de professores deslocados. A notícia é o professor que fica a quatrocentos quilómetros de casa e a muitos mais da esposa, os filhos que não são acompanhados. A notícia não é os alunos, é o professor.
O ideal seria que o referido professor ficasse no Sabugal mas no seu lugar ficou um outro que não quer ficar lá, mas para chegar mais perto de casa concorreu à escola. O nosso professor foi parar a Silves contra vontade, o de Silves ficou no desemprego e no Sabugal está um outro que da terra só quer saber a estrada para a saída.
O sistema de colocação dos professores feito em grande escala e com a preocupação de assegurar igualdade entre todos despreza a escola e os alunos em favor de uma suposta igualdade entre todos os membros de uma classe. Aliás, a igualdade é a regra dos professores, é por isso que um professor de matemática do 5.º ano de escolaridade tem o mesmo horário e o mesmo vencimento do que o que lecciona o 12.º ano, como se a complexidade e o tempo exigido preparar aulas e avaliações fosse o mesmo. Aliás, o professor de português do mesmo 12.º ano ganha o mesmo que um outro de trabalhos manuais que fez um exame da treta e lhe conferiu um estatuto idêntico aos licenciados, uma conquista sindical.
É evidente que nesta lógica global, em que a igualdade é mais importante que a qualidade a avaliação tem um peso que não deveria ter, se for mínima gera desigualdades, se for rigorosa torna-se aberrante. Não pode ser feita a pensar numa escola porque o professor de Vila Real de Santo António terá de concorrer com o de Valença.
É uma idiotice avaliar o professor de uma escola junto a um bairro problemático com os mesmos critérios com que se avalia os de uma escola de um bairro da classe média, ou pensar que se podem aplicar os mesmos critérios ao Liceu Pedro Nunes e à escola secundária de Mértola.
Se os professores fossem contratados por escolas ou grupo de escolas a importância perderia a importância que lhe está a ser dada, serviria apenas para aferir as condições do professor para progredir na carreira e não para o comparar com milhares de outros professores. A gestão dos recursos humanos não se centrava na avaliação dos professores mas sim na sua preparação pedagógica.
A falta de coragem do Governo de alterar o modelo levou-o a levar a sua coerência a níveis que o tornam caricato. Ainda por cima está convencido de que é avaliando os professores que melhora a qualidade de ensino e, como se isto não bastasse, impôs um regime de quotas à progressão na carreira, sinal de que ele próprio não confia no processo de avaliação, como, aliás, sucede com toda a Administração Pública.
Mas será que os professores aceitam um modelo feito e gerido durante mais de duas décadas a pensar no seu bem-estar, será que aceitam uma mudança profunda nos modelos de gestão das escolas e dos seus recursos humanos?
De uma coisa estou certo, o Partido Comunista Português e a Fenprof dispor-se-iam de imediato a aceitar o modelo que agora recusam e que poderá levar o PCP a eleger mais um ou dois daqueles deputados que ninguém vai ouvir falar e que antes de irem parlamento assinam uma carta em branco, do que aceitar tal mudança. O actual modelo mais do que o ensino favorece os sindicatos e os professores são necessários às finanças da CGTP, muitos professores sindicalizados significa mais dinheiro em quotas e mais militantes do PCP pagos pelo Estado para serem colocados nos sindicatos.
Com o actual modelo a Fenprof arranja sempre bons motivos para sincronizar a agenda sindical com o calendário eleitoral, se não é o estatuto dos professores é a avaliação, se não é a avaliação é a precariedade, se não é a precariedade é a escola democrática, se não é a escola democrática são as aulas de substituição, motivos não faltam. E com o actual modelo de gestão o PCP tem uma participação na gestão das escolas muito superior ao seu peso eleitoral, os seus militantes estão sempre disponíveis para fazerem o sacrifício de irem para os conselhos directivos. Dessa forma poderão opor-se mais eficazmente às políticas governamentais.
Mais importante do que a avaliação dos professores é a avaliação das escolas, em vez de gastar as energias a avaliar os professores o país deveria estar a investir nas escolas, em vez de exigir uma bom desempenho de cada professor, tarefa que deveria caber a cada escola, o ministério deveria estar a exigir e criar condições para um bom desempenho das escolas. E um bom desempenho das escolas depende de muitos factores, o bom desempenho dos professores é apenas um deles.
Em vez de discutirmos a qualidade do ensino estamos a discutir ficções, uma avaliação impossível de todos s professores segundo os mesmos critérios, a gestão democráticas das escolas que nunca o foi e não passa de um modelo corporativista de auto-gestão. Como não podia deixar de ser um modelo monstruoso de ensino tinha de exigir um modelo monstruoso de avaliação. Mas será que os professores e os sindicatos querem mesmo uma mudança profunda das escolas? Acredito que os professores, ainda que com muitas resistências, aceitariam o desafios, quanto aos sindicatos nem pensar, o actual modelo foi feito à medida do seu poder.
O modelo implementado é tão absurdo e aberrante quanto o actual modelo de gestão dos recursos humanos das escolas, não faz sentido defender o actual estado de coisas e opor-se apenas ao modelo de avaliação."

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Diário do Amigo de um Amigo meu continua

A EXPULSÃO DOS EXPLORADORES

O IV Evangelho é singular.
Primeiro, porque a sua autoria é muito discutida.
Hoje, ninguém minimamente estudioso destas matérias e de espírito aberto ao progressivo desenvolvimento das disciplinas parceiras da Sagrada Escritura atribui ao apóstolo João, irmão de Tiago e filho de Zebedeu a autoria do IV Evangelho. A sua redacção foi demasiado tardia para ser atribuída ao tradicional evangelista. Talvez um outro João, o Presbítero, talvez até um herege chamado Cerinto, talvez algum ou vários cristãos judeus vinculados ou não à catequese de João, talvez... Certo é que, se a autoria se perdeu na escuridão do tempo, o nome de João deu força e legitimidade à sua aceitação por parte das comunidades do século II.
Também, o que durante muito tempo se teve como doutrina indiscutível, que o objectivo deste Evangelho era completar o que faltava nos outros, parece não colher o parecer favorável da maioria dos estudiosos modernos. Se realmente o(s) autor(es) do IV Evangelho conheceu os sinópticos (Marcos, Lucas e Mateus), fez deles uma reinterpretação, uma releitura, um aprofundamento da mensagem cristã, mais de 50 anos depois dos acontecimentos.Vem isto a propósito do Evangelho do domingo passado escolhido para festejar a Igreja de S. João de Latrão, igreja do bispo de Roma – Igreja Mãe de Todas as Igrejas -mandada construir pelo imperador Constantino, o tal que deu a “liberdade” à Igreja.
Narra-se nesta passagem do IV Evangelho (João, 2, 13-22) o episódio da expulsão dos exploradores do Templo, que conclui assim: “- Tirai tudo isto daqui: não façais da casa de meu Pai casa de comércio”. Porém, o Evangelho de Marcos, o mais antigo de todos, conclui de outro modo: “- Não está escrito que a minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Mas vós fizestes dela covil de ladrões.” (Marcos, 11, 17).
“Casa de comércio” é uma expressão suave; “covil de ladrões” é uma expressão dura. Qual destas gozará de maior autenticidade e proximidade às “verdadeiras palavras” do Mestre. Por mim, creio que é a segunda. É de um profeta que sofre a miséria do povo…
Toda esta reflexão levou-me ao Diário do tal meu amigo que, sobre este mesmo tema, escreveu assim:

“Porque estava próxima a festa da Páscoa,
subiu com os discípulos à cidade de Jerusalém.
Fervilhava de movimento a cidade
e, lá no alto, o Templo,

e dentro do Templo, a Arca da Aliança.
A antiga arca do Povo,
que atravessara desertos e rios,
sempre puxada por alimárias possantes,
ali estava aprisionada dentro de altos muros
e grossas e douradas portas.
Ali estava, guardada noite e dia,
por zelosos sacerdotes e estudiosos levitas.
Ali estava, afastada, escondida e longe do povo sofredor.
O povo que vinha sempre,
apesar das fomes,
apesar da escravidão,
apesar dos impostos,
apesar do jugo que sobre ele pesava como montanhas,
apesar de tudo,

o povo voltava sempre
e passava por entre os animais prontos para o sacrifício,
e pagava,
e passava por entre as bancas dos cambistas e dos agiotas,
e pagava,
e passava por entre o estrume espalhado pelas praças,
e pagava.
e passava por entre os sagrados intelectuais do templo,
e pagava.
Se uma mãe recente agradecia o seu filho, pagava;
se o leproso suplicava ou agradecia a cura, pagava.
O povo pagava o luxo dos profissionais de Deus;
o povo pagava a exploração à custa de Deus.
O Mestre chega e revolta-se.
Sente a exploração do seu povo.
Sabe que à sombra da religião se faz negócio…
(Onde é que eu já vi isto?)
E parte tudo: as mesas, os bancos e as cadeiras.
E fustiga com açoites de ira os exploradores do povo.
Fogem negociantes, fogem bois, fogem carneiros,
fogem as aves das gaiolas.
Tudo foge.
“A casa de meu Pai é casa de oração.
Fizestes dela casa de negócio.”


E a exploração dos mais fracos continua, continua...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Aviso à navegação

Para os mais interessados informo que do lado esquerdo do blog, por baixo da minha imagem estão links para os meus outros blogs. Se quiserem visitar serão bem recebidos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Última Quarta feira de Outubro

Numa mesa rectangular, sem presidência nem secretariado, sentaram-se a jaez os dez magníficos convivas que quiseram comparecer a este evento rotineiro, mas sempre muito agradável.
Estiveram presentes: Robalo, A. Mendonça, Contreiras, Noca, Acabado, Xarrama, Latas, Fernandes, Mata, e Silva Pinto.
Trocadas as últimas notícias, começaram a aparecer as diversas opiniões individuais, mais ou menos influenciadas ou baseadas no “Frei Bernardo e problemas que aflora.
Outros saltaram para o momento político que estamos a viver, com a crise global, não faltando quem atribuísse as culpas aos vários Bushs contemporâneos.
Depois de aflorado o tema do São Martinho, com o compromisso assumido por alguns de que estarão presentes em Grândola no próximo dia 15, foi alvitrado pelo Robalo, grande conhecedor dos bispados e arcebispados e respectivos titulares, que o próximo encontro da última quarta feira de Novembro decorresse na Vila de Cuba, para homenagearmos o mais ilustre filho daquela terra, o grande Cristóvão Colombo.
Decorrem os preparativos e acertos de horários dos comboios, para que ninguém falte e compareça o maior número de participantes.
No encontro do São Martinho, dia 15, em Grândola, será feito apelo a que mais companheiros se associem ao encontro de Cuba, no dia 26: esperamos que sejam duas grandes jornadas de convívio e camaradagem.

domingo, 26 de outubro de 2008

São Martinho

Antigos Alunos (ordenados ou não) dos Seminários de Beja e Serpa


Como vem sucedendo anualmente e ultrapassada que foi a etapa dos trinta anos, iremos concretizar o convívio do São Martinho no próximo dia 15 de Novembro (Sábado).
Já se realizou nas mais díspares localidades e, este ano, será em Grândola, no Restaurante “O Cruzamento”.
Esse local de restauração está situado na estrada que liga Alcácer a Grândola e, para quem vem da auto-estrada Lisboa - Algarve, apanha a saída para Grândola e depois na rotunda, 100 metros à direita, encontrará esse local regional que durante várias horas proporcionará um são e agradável convívio.
A ementa, desde a entrada à sobremesa, será totalmente composta por pratos tipicamente alentejanos e o seu custo será de 13,00€.
Como é nosso hábito, para complementar a ementa que nos é apresentada e preencher toda a nossa tarde e princípio de noite, cada um de nós deverá levar um doce, um salgado, bebidas ou aquilo que considerar de maior utilidade e que será o mais original.
A inscrição deverá ocorrer até ao dia 11 (para darmos números certos ao proprietário do restaurante para que ele se possa aprimorar nos pratos) para o número 919781328 (Luís Finote) e para o 919066214 (Fernando Teixeira).
Também poderás utilizar esses números para qualquer dúvida ou sugestão.
Aguardamos por ti, tua consorte e filhos para, em conjunto, passarmos um dia espectacular.”

Nota:Por deferência de Luis Finote.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Ainda e sempre Milfontes

Milfontes era, naqueles primeiros anos da década de cinquenta do século XX, um pequeno aglomerado de casas térreas, à excepção da do Dr Águas, dispostas em ruas estreitas todas dotadas de calçada portuguesa e iluminação nocturna a candeeiros de petróleo, na margem direita do Rio Mira e envolvendo dois edifícios de especial interesse: o Castelo e sua Barbacã, e a Igreja paroquial. Aquele distinguindo-se pela vetustez sombria, defendido por grande fosso donde surgiam heras que o envolviam escondendo as paredes pardacentas e esta, a Igreja, pela simplicidade de linhas e torre sineira, muito bem caiadinha de branco com faixas azuis, muito alentejanas.
A entrada fazia-se por uma única rua que dava seguimento à estrada e o visitante deparava com um pequeno largo, a que chamávamos “Praça do Almada”, por ali residir essa figura incontornável que era um ex-combatente da Grande Guerra, de nome Almada. Dizia-se familiar de Almada Negreiros, e para fazer jus ao nome exibia alguns dotes poéticos e declamatórios, inflamados por efeito de alguns gases de que fora vítima na Flandres.
Nesse largo paravam as camionetas de carreira do “João Cândido Belo” vindas do Cercal e dali irradiavam quatro ruas: três para o interior do povoado e a quarta para o Cais.
Este Cais, no Rio Mira, deu alguma notoriedade a Milfontes porque era o primeiro ponto de escala para os veleiros, (“Rio Mira” e “Milfontes”), que vindos do Barreiro com carregamentos de adubo subiam o rio até Odemira, onde substituíam a carga por trigo ou cortiça e regressavam a Lisboa. Os lavradores faziam desde as suas propriedades até Odemira, que funcionava como entreposto, o caminho inverso: levavam trigo da sua colheita para os celeiros da FNPT, (Federação Nacional dos Produtores de Trigo), e traziam o adubo para as sementeiras da safra seguinte.
Assim o Rio cumpria a sua função que terá dado o nome à Vila de Odemira: “òdos-ou”, caminho. O Rio Mira foi o grande caminho, "òdos", que permitiu o acesso a povos fenícios e gregos, ao interland serrano do maior concelho de Portugal.
Mas voltemos a Milfontes e nossos serões de convívio com o vate da terra: lembro o saudoso Isidoro e o bom companheiro Jorge Brito que exploravam até à exaustão os dotes declamatórios do Sr Almada.

“Vila Nova de Milfontes
Rainha do Alentejo
Andam saudades nos montes
Nos dias que te não Vejo!”

“Rio Mira Vai cheio
E o barco não anda
Tenho o meu amor
Lá da outra banda

Lá da outra banda
E eu cá deste lado
Rio Mira vai cheio
E o barco parado!”


Isto no que respeita a versos e rimas, porque a prosa também não era deixada por mãos alheias. Ficou célebre uma composição muito extensa que não vou aqui reproduzir, citando apenas o primeiro período de que alguns se recordarão:
“ Em frente ao Cais destaca-se o bosque de Vila Formosa, atraente e encantador!.......”

Outro lugar que merecia as atenções do nosso conviva era o CANAL, porto natural a norte da vila, onde os pescadores se abrigavam das intempéries e que hoje, com alguns melhoramentos, serve melhor o fim a que se destina, embora com grandes limitações de capacidade e segurança. Os pescadores artesanais, dotados de pequenas embarcações, não podem recolher-se no Rio porque a barra é muito batida, com mar alteroso, e por isso recolhem, com mais segurança, para o Canal.

Como poderemos esquecer esses saudosos tempos de Milfontes!?............ a praia do norte, que se alcançava através das dunas, (viagem penosa no regresso), a praia do farol, com suas correntes perigosas quer no rio quer na degola entre o norte e o rio, conforme as marés, a praia das furnas, onde apanhei dois sustos: um por risco de afogamento ao atravessar uma grande lagoa que se formou entre a praia e um baixio, (ilha de areia), e outro ao abrir uma lata encontrada na praia, quando passeava, em maré baixa, com o C. Torrão. Perante aquele achado, um pequeno contentor em folha de flandres, cerca de dois a três litros de capacidade, devidamente fechado e com boa apresentação, resolvemos abrí-lo. Qual não foi o espanto quando o conteúdo em contacto com a água, começou a fumegar muito. O C. Torrão desatou a correr desalmado e eu fiquei preplexo, talvez por não medir bem as circunstâncias, e só depois corri também, quando me apercebi de que poderia estar em presença de um produto explosivo. Não era! Porque, se fosse..., já tinha sido. Enfim... peripécias de juventude!

sábado, 18 de outubro de 2008

Diário de um Amigo de um Amigo meu

A CRIAÇÃO

Vila Velha da Serra, 10 de Março de 1973
Não levei este maldito caderno de capa azul para as pequenas férias de Carnaval que fui passar a Lisboa. Ainda pensei em comprar outro ou escrever nalgumas folhas soltas como por vezes costumava fazer. Mas adiei. É aqui, nestas folhas quadriculadas, amarradas pelo fio metálico disposto em espiral, que eu gosto mais de escrever. Pois escreverei!
Na quarta-feira passada, 7 de Março, fomos juntos – eu e Madalena – à missa da imposição das cinzas, na Sé. Era importante entrar na Quaresma como penitentes.
Ainda o pó da cinza não desaparecera das nossas frentes e, descendo calmamente em direcção à Praça do Comércio, já a nossa conversa se dirigia para o significado do rito celebrado e para a melhor interpretação da linguagem bíblica.
Expunha eu com a grande eloquência, que a formação adquirida me permitia, um arrazoado de ilações retiradas da narrativa da criação do Homem, o que vinha simplesmente a propósito das cinzas que são o seu fim último visível. E contava como, em criança, imaginava a Deus pairando sobre as águas e sobre toda a criação admirando afável a sua obra. Não lhe faltavam sequer as suas longas barbas brancas… E descrevia-o sentado numa pedra modelando com arte e saber o molde do que havia de ser o Homem, após o seu sopro de vida. E como imaginava aquele barro a tomar vida, animar-se, mover-se, andar, falar…
Porém, como a cor da pele sempre foi uma dificuldade para bem interpretar este episódio fantástico de imaginação e de crença dos primeiros poetas teólogos, procurava adicionar um pouco mais de narração.
Então, colocava Deus a modelar o primeiro par humano na Primavera do Tempo, entre flores de muitas cores e regatos a correr mansos. E nascia assim o Homem de pele vermelha, reflexo das papoilas e das rosas, e de todas as outras flores do prado. Dava-lhe a força selvagem da natureza e o calor da ternura pela Mãe/Terra.

(Parece-me que o vejo a recordar aqui a “Carta do Chefe Índio Seattle ao Grande Chefe Branco de Washington”, ao Presidente dos Estados Unidos que queria comprar terras aos índios. Sei que, de tanta vez a ler, a sabia praticamente de cor…

"Como podeis comprar ou vender o céu, o calor da terra? A ideia não tem sentido para nós. Se não somos donos da frescura do ar ou o brilho das águas, como podeis querer comprá-los?
Qualquer parte desta terra é sagrada para o meu povo. Qualquer folha de pinheiro, cada grão de areia das praias, a neblina dos bosques sombrios, cada monte e até o zumbido do insecto, tudo é sagrado na memória e no passado do meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem a terra onde nasceram, quando empreendem as suas viagens entre as estrelas; ao contrário os nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, os veados, os cavalos, a majestosa águia, todos são nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencem à mesma família…”

Aqui está o Homem Vermelho, o Homem da Primavera, da seiva que percorre o interior das árvores, das folhas e dos rebentos dos novos ramos…)

E o Homem de pele colorida escolheu os seus prados, os seus jardins, os seus bosques, num respeito profundo pela Mãe/Terra.

Chegou o Verão e Deus não estava satisfeito. Achava aquele homem colorido demais para o seu gosto
De novo tomou o barro e modelou outro homem. Afagou – lhe aqueles cabelos ásperos e aperfeiçoou-os com ternura.
Insuflou de novo um vento novo nas suas narinas e novamente o barro se animou, as mãos se agitaram, o peito se dilatou e andou e falou e riu muito.
Mas o Sol inclemente caiu sobre ele e queimou a sua pele. Os pés assentes na terra tomaram a cor da própria terra e as palmas das mãos segurando um ramo de árvore não se deixaram queimar.
E o Homem Negro, que havia de ser escravo de outros homens, que havia de ser explorado na sua própria terra, que havia de sofrer guerras e violações, que havia de ser transportado em condições indecentes para outras terras, outros climas e outras fomes, escondeu-se nas florestas. E, das suas profundezas, surgiram cantares espirituais que haviam de entoar nas catedrais dos porões dos barcos negreiros a caminho das Américas, ao sol bruto dos campos de algodão, no fundo escuro das minas de carvão, nos engenhos da cana de açúcar. Ecoaram nas noites de fome e pancadaria, de gritos e violações, de estrelas a povoar o espaço imenso, cantos sofridos e de esperança.
Entre eles surgiram profetas de esperança:

(Ele recordava certamente um certo profeta negro, Martin Luther King de seu nome, que em 1963, gritava os seus sonhos e a sua esperança:

“Eu tenho um sonho…
Eu tenho um sonho. Um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos dos escravos sentar-se-ão juntos à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho. Um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, transformar-se-á num oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho. Um dia, os meus quatro filhos pequenos viverão numa nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu carácter.
Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho. Um dia, todos os vales serão alteados e as montanhas e as colinas serão abatidas; endireitados serão os caminhos tortuosos e aplanadas as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência.
Esta é a nossa esperança.”)

Passou o Verão. Amadureceram os frutos…
Depois, as folhas amareleceram e começaram a cair. Escondido nas florestas ou correndo nas pradarias, Deus deixou de ver o Homem que criara e teve saudades dele e do seu acto criador. As primeiras chuvas outonais amoleceram o pó da terra, as tardes começaram a ficar frias e tristes…
E Deus retomou o barro, afagou-o com carinho, desenhou uns olhos mais rasgados e uns cabelos desalinhados, modelou umas mãos muito finas e soprou novamente o seu sopro de vida. E novamente o barro inerte moveu-se, fez um gesto gracioso com as mãos, saltitou e correu para jardins encantados onde o lótus e o nenúfar enfeitavam lagos de paz. Depois, juntou as mãos e ficou a meditar durante muito, muito tempo. E o barro tomou a cor da tarde, da natureza outonal, dos campos beijados pelo Sol Poente.
Para lá das montanhas mais altas da Terra, o Homem Amarelo estabeleceu os seus domínios, procurou a perfeição com toda a força do seu espírito, na meditação profunda e na oração constante.

Veio o Inverno.
As montanhas cobriram-se de neve e brilhavam quando o Sol as fazia reluzir. Os rios turvos e turbulentos arrasavam as margens e arrastavam quanto podiam. Sucediam-se dias e dias de tempestades de chuva e de neve. As noites eram longas, longas e escuras. A Lua corria entre nuvens de medo e fúria.
Numa manhã de Sol lavada e pura, depois de dias de tormenta forte com raios, trovões e grandes chuvadas, Deus sentou-se novamente na pedra da criação. Olhou o horizonte fresco e perfumado da humidade dos campos.
Tomou o barro fresco, limpo de impurezas e macio. Afagou-o novamente com ternura. Emocionou-se ao passar levemente as mãos na superfície lisa das costas, dos braços, das pernas, do pescoço e da face do novo projecto de criação. Olhou enternecido a sua obra e deu-lhe a cor da neve das montanhas, colocando nos seus olhos um pouco do azul do céu, ou terá sido o verde dos rios, ou o castanho da terra/mãe?
E o Homem Branco ficou aprisionado entre vales e montanhas, entre rios e oceanos, construindo a pouco e pouco a enorme empresa de conhecer e conquistar todo o Mundo.

Deus, então, sorriu e achou que era muito bom quanto tinha criado…

Tínhamos chegado à paragem do eléctrico, mas decidimos prolongar o passeio e a conversa.
Após este aditamento à narração bíblica, Madalena agarrou-me o braço e exclamou:
- Que grande imaginação tu tens! Isso alguma vez poderá ter sido assim?
- Claro que não – respondi. – Nem assim. Nem assado. Nem como eu conto, nem como a Bíblia conta. A evolução é um facto inegável e a narrativa não é nem história, nem ciência. É, isso sim, uma interpretação poética e teológica da fé do Homem daquele tempo concreto em que foi escrito. Não creio que tenha sido um único par humano, senão Deus tinha abençoado o incesto. Nem três ou quatro, como eu gosto de descrever.
E continuámos a conversa…
Tudo por causa do pó das cinzas.

Atravessámos devagar o Terreiro do Paço até ao Cais das Colunas. Os cacilheiros despejavam constantemente gentes da outra banda. Parecia que a ponte, que uniu finalmente as duas margens, rangia ao volume do trânsito que suportava. E o Tejo, sujo, mas belo, beijava devagarinho a cidade.
Tudo por causa do pó das cinzas…
- Nós somos feitos de pó dos astros e de fragmentos de estrelas… Não somos simplesmente pó amassado com água e modelado com amor e ternura.
Madalena quebrou assim o silêncio enquanto olhávamos o rio resplandecente de luz espelhada.
- É verdade – respondi. – O poeta do Génesis não podia ter escolhido melhor matéria-prima para a criação: o barro. Nem melhor profissão para o criador: oleiro. Devia ser uma profissão que misturava magia e perfeição. Ver sair das suas mãos aqueles objectos tão perfeitos e tão úteis: os copos, os pratos, as bacias, os cântaros e vasos… Era mesmo de artista!

Reflectíamos assim sobre a vida, enquanto o Tejo corria para o mar, os barcos o sulcavam arfantes e as nossas pequenas férias de Carnaval estavam a terminar.

“Lembra-te, homem, que és pó…”

(Para a época, parece-me que ele estava bastante avançado, ou porque lera coisas sobre este assunto, ou porque assistira a alguma conferência, ou porque algum dos padres novos, ditos progressistas, que, por esse tempo, fervilhavam como coadjutores de paróquias ou professores de Moral nos liceus, vindos de seminários suspeitos e desmantelados ou de universidades estrangeiras, lho soprara em eventuais conversas informais.
Tomava forma já nessa altura a interpretação não literal – impossível compatibilizar a interpretação literal com os avanços e as descobertas científicas – das narrativas da criação.
Não mais era possível ver Deus passear na brisa da tarde no jardim do Éden a conversar com o único par humano existente. É uma imagem muito bonita, muito romântica, muito amorosa, mas não passa de uma metáfora, ou de um mito, ou da única interpretação possível para o poeta/teólogo que se deu ao trabalho de compilar as diversas narrativas genesíacas. Deixou, porém, registada a sua crença num Deus criador e, com os instrumentos e os conhecimentos dessa altura, forneceu-nos um poema que atravessou séculos, cerca de trinta. Três mil anos!)

Dirigimo-nos, em seguida, para a paragem dos eléctricos.
Chegou o da “Estrela”. Era o dela,
- Adeus.
- Adeus e até breve – respondi.
E, pela primeira vez, beijámo-nos docemente na face.
Nota:-Aqui vai a minha homenagem ao meu Amigo Antonino Mendonça, por este belo naco de poesia.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

E já me safei!!!

Era meu propósito desenvolver uma matéria, como adrede agora se diz, sobre o silênco e a repressão pelo silêncio, mas felizmente e em boa hora, fui ultrpassado. É que o "FREI BERNARDO" tem lá tudo ou quase tudo, e dito de uma maneira que nos deixa estupefactos: o "Carlos" fala mesmo bem e desembaraçado.

Lembra ele aquelas meditações matinais, dirigidas monocordicamente por um director espiritual umas vezes aterrorizador, outras com laivos de poeta ascético, nomeadamente quando se referia a Teresa d'Ávila ou à outra Teresinha que era de Lisieuz, mas que apelidaram do Menino Jesus.

Lembra ainda os trajectos em formatura de ordem unida, das camaratas para a Capela, desta para o refeitório, daqui para as salas de estudo, destas para o recreio e depois para as aulas ao som da "cabra" amiga, que tambem nos dava o sinal para acordar, bem cedo, pelas seis da manhã.

Lá estão aqueles retiros de meio dia ou os outros de três dias sem falar. Diziam que no silêncio se fala com Deus, mas que Deus(?), que não permite perguntas e menos dá respostas?
Para fazer as palestras dos retiros, (dirigir o retiro), normalmente eram convidados ou convocados padres especialmente dotados para o efeito. Recordo um cónego que veio de Lisboa e um outro que veio de Leiria ou Fátima: dotados de grande poder de persuasão e grande espírito de abnegação, fundamentando a sua exposição em termos muito emocionais e escatológicamente dirigidos, facilmente conduziam o rebanho ao seu redil.

O que posso dizer mais? -Leiam o FREI BERNARDO!

domingo, 31 de agosto de 2008

Ainda Milfontes

Segue-se uma matéria que me enviou o Amigo Antonino Mendonça e que, com o maior gosto publico, ressaltando a valorização que traz a este blog.

Por uma breve análise,se verifica tratar-se de alguém que sabe escrever e que pode, com rigor chamar-se escritor, pois já publicou o seu nosso conhecido e relido "FREI BERNARDO".

PS - Para facilitar a leitura, clique sobre as imagens.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

1951 - A Casa do Diabo (Ermida de São Pedro)

Chamávamos Casa do Diabo a uma Ermida existente a nascente de Beja, dedicada a São Pedro, mas onde não havia culto, estando ocupada por um Fogueteiro, (o Diabo).

O célebre Padre Almeida, (terror para alguns), sobressai ao centro, atràs do Bossa Andana.

Passeio à Ribeira da Guadiana - 1951

ANIVERSÁRIO DO SENHOR VICE-REITOR

O aniversário do Senhor Vice-Reitor era uma data de assinalar: 18 de Novembro, nunca esquecerei, porque era motivo para dar um passeio especial.

Em 1951 foi à Ribeira da Guadiana, como então se chamava ao famoso rio que tem nome da deusa romana dedicada à caça, DIANA. Foi o dia todo, com saída de manhanzinha e regresso já noite fechada, que os dias são pequenos em Novembro. O transporte era fácil porque a auto-motora para Moura tinha paragem mesmo ao sair da grande ponte. Foi a equipa de cozinheiros e tudo, com a palamenta e os tachos necessários para a confecção e tomada do almoço. Lenha havia com fartura e perigo de incêndio já não era cuidado que se tivesse, não só pelo tempo como pelo lugar, junto ao rio.

Ali, junto à ponte do caminho de ferro para Moura, o rio apresenta algumas pequenas praias e a água não tem grande corrente, sobretudo porque ainda não tinha chovido muito, o que permitia a prática da natação àqueles mais destemidos que se propuseram atravessar para a outra banda, com algum risco calculado.

Foi um dia bem passado e que se gravou na memória de muitos. A mim, por exemplo, ficou de tal modo que, de futuro, quando precisava de experimentar uma caneta ou depois esferográfica, ou fazer uma demonstração de caligrafia, etc, até mesmo depois na minha vida profissional, sempre que tal acontecia escrevia sempre: "18 de Novembro.........."


Noca depois do banho na Ribeira da Guadiana

Em 18 de Novembro de 1951, parece verão, mas não é.

A equipa de cozinheiros, cumpriu a sua missão.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

MILFONTES -1952/53

As estadias em Milfontes foram dias de grande convívio e camaradagem, que muito contribuíram para o nosso desenvolvimento integral como homens que se pretendiam fortes de corpo e alma: "mens sana in corpore sano!".
Ali, as imprescindíveis actividades religiosas eram temperadas com grandes passeios, em grupo, pelas praias e por lugares aprazíveis, como a mata de Vila Formosa.
Muitos dias levávamos almoços aligeirados para não haver necessidade de vir ao apoio logístico.
Digo apoio logístico porque nos primeiros anos, o alojamento era mesmo muito escasso, com colchões trazidos do seminário, estendidos no soalho, como se fosse uma caserna de trabalhadores rurais.
Mais tarde o Colégio de Nª Srª da Graça, em boa hora e com grande mérito, construído sob a orientação do saudoso Cónego Lourenço, passou a ser o hotel onde nos instalávamos confortavelmente.
Recordo, com saudade, o pequeno-Grande ISIDORO, bom companheiro!, O Jorge, meu conterrâneo, o Cunha de Serpa, o Bossa de Barrancos, o Palma de Mértola e o Palminha de Alvito, o António Zé, o Gustavo familiar do Presunto, o Virgílio de Saboia, o Zé da Ponte, o Gamito, Zé Jaquim Guerreiro, o Brás de Ermidas, os de Santo Aleixo que eram 3 ou 4, o Túbal, o Contreiras grande amigo, o Lourenço sobrinho do Tio e tantos, tantos outros, cujos nomes me não ocorrem agora.


1952 - Bosque de Vila Formosa

1953 - Refeição na Praia das Furnas

1953 - Construções na areia?


1952 - Sobre um rochedo da Praia das Furnas

MILFONTES -1952/53

1952 - Prontos para atravessar o Rio Mira


1953 - Banho na Praia do Rio vendo-se em fundo Vila Formosa na outra margem

1953 - Na praia do Farol



1953 - Refeição na Praia das Furnas


1953 - Construções na areia? na Praia das Furnas