quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Pântano e o Monstro

Nota: Faça duplo clic sobre o texto para a imagem se tornar clara e legível.

PS: Rebusquei este artigo de opinião no jornal "Diário do Sul", por me parecer bem fundamentado e realista, isto é, conforme com a realidade portuguesa.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Última Quarta Feira de Junho

Não pude comparecer devido ao meu munus de baby siter, (isto é que é poliglotismo!). Mas é bom ter amigos que se lembram de nós e até nos substituem com vantagens de toda a ordem: um Amigo meu enviou-me a matéria que se segue e que publico com o maior gosto dado o valor acrescentado que junta ao meu blog.
"Meu caro amigo:

Acabamos de lhe marcar a falta, sem justificação apresentada nas formalidades do costume. Apesar de todos sabermos e reconhecermos que são muito exigentes as obrigações do “abuelato” (não sei se esta palavra existe na Língua Portuguesa – certamente que não -, talvez exista no castelhano – que é o que está a dar – mas talvez não e, se não existir nem numa nem noutra, que se lixe o caso, porque isto quer significar a condição e as respectivas obrigações de se ser avô ou avó). Vivam os avós!


Baleal, 30 de Junho de 2010.


Seis dos outros muitos, encontrámo-nos, como de costume, à porta da Casa do Alentejo. O Francisco Acabado, o Zé Mata, o Jacinto Charrama, o Jacinto Latas, o Francisco Robalo e o Antonino Mendonça. E arrancámos para o “polvo à lagareiro” ou outra ementa à escolha. Esperava-nos, repimpadamente sentado à mesa posta, o Silva Pinto.

Foi duro o rescaldo da eliminação de Portugal do Campeonato do Mundo. O Queiroz e o Ronaldo (que nem cantou o hino nem fez coisíssima nenhuma…) foram os bombos da festa. O Eduardo foi o herói, já que tudo mereceu, excepto a eliminação. As opiniões divergiram quase tanto como o número dos comensais. O Zé Mata barafustava porque o Antonino Mendonça não lhe respondia aos emails. E algumas opiniões religiosas feriram tradicionais crenças arreigadas e sensibilidades menos habituadas à polémica. Da diversidade somos feitos. Sem diversidade, a monotonia e a aridez do deserto instalar-se-iam no nosso dia-a-dia. Diferente do deserto, o mar, parecendo monótono, é arrogante, intranquilo, inconstante, cheio de vida. Por isso, é belo, mesmo quando medonho. Então naveguemos.

Lá se foi o “polvo à lagareiro”, lá se foi o tinto e o branco à pressão, lá se foi a sobremesa e o café. Lá se foi o almoço da última quarta-feira do mês de Junho.

Deste almoço não ficou apenas a memória. A imagem empoeirada como de um almoço qualquer. É que, num bocado rasgado da toalha da mesa, ficaram os retratos desenhados pelo Charrrama dos demais convivas. Habilidades…

Francisco Acabado, pensativo.

O Silva Pinto estava mesmo incomodado com a prestação do Ronaldo e o Charrama lá o ia defendendo conforme podia. Só que o pior foi não ter cantado o hino. Mas, será que ele sabe cantar?



Silva Pinto, incomodado.
O Zé Mata defendia o seu Sporting e ofereceu uma caneta ao Antonino Mendonça. Para fazerem as pazes e acabarem com as discussões.


Zé Mata das Inguias ou da Sortelha. Sportinguista até dizer chega…

Se Jesus nasceu em Belém como referem Mateus e Lucas (Com que motivações?), se nasceu em Nazaré como parece indiciar o nome por que ficou conhecido (Jesus de Nazaré) ou noutra terra qualquer, nunca o saberemos de certeza historicamente certa. Não havia nesses tempos registos de nascimento… O melhor é ficarmos como Marcos e o autor do 4º Evangelho não o afirmarmos como suma verdade. Estes calaram ou não sabiam. Outros o afirmaram por motivos apologéticos, absolutamente legítimos nesses tempos. A verdade é sempre um caminho por fazer. Façamo-lo!


Antonino Mendonça, provocador. O Xico Acabado que o ature.

Falou-se de Saramago. Há quem goste. Há quem desgoste. Há quem aprecie o artista e quem não aprecie o homem, Mas a unanimidade estabeleceu-se na crítica à censura “vaticanista” por altura da morte do “nobelista”. Nem a altura foi oportuna, nem houve justiça na censura à obra e ao homem.


Jacinto Latas (ou Pratas?). Atento ao que se passa à sua volta…

Ficou-se com a impressão de que, durante o almoço, o Robalo esqueceu as suas maleitas. É também para isto que servem os almoços. Esquecem-se as dores com o convívio e a presença dos amigos. Que continue tudo a evoluir da melhor maneira, companheiro!



Francissco Robalo, convalescente e animado. Como sempre.

O Jacinto Charrama não produziu o seu auto-retrato. Por isso, a galeria fica incompleta. É pena. Mas, é assim a vida, que é sempre feita de imperfeições e de frases incompletas.

(Nota do bloger: Para que não fique incompleta a galeria aqui vai este espécimen. o Androgenismo não é uma coisa assim tão rara: a Natureza nem sempre é perfeita. Isto não tem nada a ver com o Charrama, claro, e que fique bem esclarecido! O Xico Acabado e o Mendonça foram tao renitentes que não os consegui alinhar ao centro, como os outros e era meu desejo.)

O calor apertava na Praça da Figueira e no Largo do Rossio. O melhor é fugir e regressar a casa, ou ficar impávido e sereno no conchego do ar condicionado a beber qualquer coisinha fresca…

Até sempre companheiros!"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Recordando o Manuel dos Santos Catarino

Querido Deus, eu rezo para a cura do cancro. Amen

Em memória de alguém que você sabe que foi abatido por cancro ou ainda vive com ele.
Uma vela nada perde pela iluminação...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Diário de um Amigo de um Amigo meu

RECORDAR


(Diário de um amigo)

Vila Velha, 13 de Abril de 2010

Creio que hoje, se ainda estivesse connosco, completaria sessenta e nove anos de idade o nosso companheiro Manuel dos Santos Catarino.

Recordo-o bem. Andava ele já no terceiro ano, quando entrei para o seminário. Era alto e forte. Impunha-se pelo seu comportamento e pelo seu trabalho. Era respeitado por todos. Juntos, passávamos muitos dias das férias do verão em Almodôvar colaborando com o Cónego Nazário, padrinho de crisma de ambos. Ajudávamos nas festas das aldeias, colaborávamos no cartório (a ordem alfabética dos livros de baptizados e casamentos ainda devem ter a nossa letra), fazíamos os registos de baptizados e casamentos, viajámos por aqueles montes e vales até S. Barnabé onde o cheiro do medronho nos aformoseava a caminhada. Dias bons aqueles…


Recordo-o depois nos caminhos de Espanha. Lá partia ele para Vitória e eu para Comillas. Tantas viagens fizemos juntos. Conversando, discutindo, amigos. E, na noite, o comboio atravessava a braveza de Castela, soprando, arrastando-se numa infinidade de contratempos e de esperas. Os frios da viagem pelo Natal…

Recordo umas férias missionárias em Ermidas-Sado. O entusiasmo e a alegria da experiência concreta no mundo das pessoas. A verdade com que seminaristas e não seminaristas, rapazes e raparigas, unidos num mesmo ideal, eram capazes de viver e conviver saudavelmente, apesar do calor sufocante do verão alentejano. Amizades que se consolidavam. Fraternidades que se repartiam. E a saudade experimentada quando os primeiros partiram no comboio da tarde…

Recordo o Sobral da Adiça. Tantas histórias por contar. Tanta catequese por fazer. Tanto entusiasmo. E… tanta solidão! Contigo, Manel, passei os meus primeiros tempos de presbítero, ajudei-te nas festas de verão, acho que fiz o sermão e aprendi contigo a alegria de ser cristão.

Recordo os “Cursillos de Cristiandade”. A força, com que transmitias as tuas ideias e a tua fé, era contagiante. Eu acreditava, tu acreditavas, eles todos acreditavam.

Recordo a festa de Vidigueira. Quinta-feira d’Ascensão. O prior pediu-me para escolher um pregador para a festa. Não me lembrei de mais ninguém senão do Catarino. E ele veio. Fez-se entender. Proclamou a palavra com clareza e com ternura. Fez amigos.


(O Catarino na festa de Vidigueira com o velho prior e o coadjutor da paróquia - 1967.)

Recordo um outro dia. O Urbano, colega e amigo de ambos, diz-me com toda a crueza: “- O Catarino vai deixar. Vai-se casar.” Fiquei estupidamente atordoado e não tive outra maneira de exprimir o que sentia senão desabafar: “- Porra! Quando acabará esta maldita lei que nos faz infelizes e incompreendidos!” E, até hoje, estupidamente, por orgulho, tacanhez ou por outro motivo qualquer, mantém-se a irracionalidade e a hipocrisia de tal lei, com todos os dissabores, amargos de boca, crimes e mentiras espalhados na litosfera, blogsfera, atmosfera e por todas as outras esferas possíveis e imagináveis.

Finalmente recordo a noite. Era véspera do seu casamento. Estivemos juntos numa esplanada do Rossio. Creio que bebemos um café ou um sumo. Não sei. Só sei que foi a última vez que vi o Manuel dos Santos Catarino.

sábado, 3 de abril de 2010

E AGORA?

COMO RESPONDER A ESTE NOVO CHOQUE CIVILIZACIONAL?
O TABÚ SEXUAL ACABOU!
COMO CONTROLAR OS INSTINTOS QUE PERMANECEM?
O PECADO SUBJACENTE AO CRIME NÃO PODE SER ABSOLVIDO NO CONFESSIONÁRIO!
A CONFUSÃO DA TORRE DE BABEL TERMINOU COM A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO OU AGRAVOU-SE AINDA MAIS?
A CONFISSÃO E A AUTOCRÍTICA NÃO SÃO SUFICIENTES! O CRIME EXIGE CASTIGO REGENERADOR, VINDICATIVO E PREVENTIVO! SÓ ASSIM A SOCIEDADE PODERÁ AVANÇAR: A LEI "DIVINA" NÃO É SUFICIENTE E A EXECUÇÃO DA LEI LAICA OU CIVIL NÃO ESTÁ RESPONDENDO AOS DESAFIOS DESTA ERA MARAVILHOSA.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um conto interessante

Um amigo enviou-me este conto que gostosamente partilho com meus visitantes.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Pergunta fica no ar e é oportuna.

Essa pergunta foi a vencedora num congresso sobre vida sustentável.

"Todos pensam em deixar um planeta melhor para os nossos filhos... Quando é que pensarão em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"
!



Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro da própria casa e recebe o exemplo dos seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta onde vive...


quarta-feira, 31 de março de 2010

Último dia e última quarta-feira de Março

Como de costume, (costumes não os tires nem os ponhas, dizia o saudoso Mons Torrão), e satisfazendo compromisso tacitamente assumido, mas não vinculativo, reuniram-se hoje em almoço informal, na Cervejaria "O Baleal", nove indefetíveis ex-companheiros e amigos perenes, que dão pelos nomes de Zé Contreiras, Xico Acabado, Jacinto Xarrama, Silva Pinto, Xico Robalo, Jacinto Latas, (ou Pratas, segundo crónicas antigas), Lourenço, Noca e finalmente o novo elemento de sua graça, José Figueira Rolim, este natural de Almeida e primo do célebre Rolim dos Fados de Coimbra.

O Zé Contreiras chegou no fim porque esteve a fazer uma revisão à carótida, em prevenção de AVC, mas está tudo controlado.

A figura central foi hoje o Rolim, ilustre bancário do Nacional Ultramarino de Nampula, donde regressou em 1978, depois de aventurosas diligências entre as autoridades portuguesas e a Frelimo, para transferência do banco e defesa dos interesses em jogo, o que não terá sido nada fácil.
O José Rolim ocupou um posto importante na década de 70 do século XX, no BNU de Nampula, tendo-se-lhe proporcionado contactos com figuras importantes da cena política da época, desde o então jovem Kaulza de Arriaga ao não menos jovem Almeida Santos e sobretudo a elementos influentes da Frelimo, na parte final da sua permanência naquele país africano e ainda, como muito bem relacionado com o bispo local, serviu de anfitrião a personalidades da cultura e artes, recordando ele a receção que fez ao P Joaquim Fatela que ali se deslocou com a sua orquestra juvenil de acordeons.
O Noca penitenciou-se por ter faltado aos dois últimos encontros e apresentou antecipadamente tolerância para alguma falta de presença futura, porque as suas obrigações familiares não lhe permitem grandes devaneios uma vez que a Madalena, (sete mesinhos), lhe absorve todo o tempo e atenção: dantes tinha ordenança e impedido, agora é ordenança da esposa, impedido de sair por causa da sogra de 95 anos e ultimamente, encontra-se em prisão domiciliária, sem pulseira eletrónica, por determinação da Madalena. Está bonito, não está?
Enfim opções de vida e felicidade bastante. A felicidade é relativa e cada um tem de criar a sua. O Noca continua feliz!
O José Rolim quer responder a um apelo da Sobrinha do Aparício, (António Mendes Aparício), para uma homenagem ao mesmo, por motivo dos 50 anos da sua ordenação sacerdotal e pede colaboração. Vamos ver como os ventos sopram e o que poderemos fazer nesse sentido: levou o endereço electrónico do Noca para contatos posteriores.
Atendendo ao adiantado da hora e dada a urgência da nossa retirada, pelos motivos acima referidos, tocou a dispersar e foi, cada um, ao seu destino.
Até ao próximo encontro Companheiros!
1955 - Curso do 1º ano de Filosofia: António Bossa, José Fernandes Canilho, José Figueira Rolim, António Mendes Aparício e NOCA. Foto tirada nas escadas da portaria.

1955 - 1º e 2º anos de Filosofia. Da esquerda para a direita: em primeiro plano, António Bossa Andana, José Figueira Rolim, Joaquim Martins Isidoro, Noca; em segundo plano,José Pires Soares, Ribeiro, João dos Santos Diamantino, José Fernandes Canilho, Proença e António Mendes Aparício. Foto tirada junto ao cruzeiro então existente onde agora está a estátua de D José P. Dias.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Não resisti a transcrever

Bandalheira
Os últimos anos vão ficar na história de Portugal como um período negro do prestígio das instituições, um período em que a luta política foi feita com recurso a golpes sujos. A luta pelo poder a qualquer custo tem levado a que muitos dos nossos políticos tentem eliminar em vez de ganhar aos adversários, sem ideias e projectos apostam mais na jogada. no golpe, na manobra oportunista do que em construírem uma alternativa.
O problema não é tão recente como alguns querem fazer crer, o que estão a fazer a José Sócrates não é novidade nenhuma, há muito que a alcunha, a insinuação, a falsa informação é usada para eliminar adversários político. Tentaram desvalorizar António Guterres com a alcunha da “picareta falante”, agora vemos Pacheco Pereira muito incomodado com a possibilidade de os assessores deixarem de ser eunucos políticos e exercerem os seus direitos de participação na vida política, está esquecido de quando Patinha Antão era director-geral de Estudos e Previsão do ministério das Finanças e usava esse estatuto para tentar contradizer as opiniões de António Guterres em plena campanha eleitoral. Tentaram eliminar António Vitorino com um a suposta manobra de evasão fiscal quando se veio a provar que o então ministro da Defesa tinha pago impostos superiores aos que eram devidos. Destruíram Ferro Rodrigues e nem hesitaram em tentar envolvê-lo no processo Casa Pia.

Com alguns políticos a deixarem de respeitar as regras e a apostar no desprestígio das instituições não admira que sejam os grupos corporativos a usarem os seus poderes ocultos e a transformares processos judiciais em armas de homicídio político. A bandalhice é total, escuta-se ilegalmente um primeiro-ministro e colocam-se as escutas num jornal em vagas sucessivas e quando tudo falha até o sindicato dos magistrados faz exigências ao Procurador-Geral da República ao mesmo tempo que alguns políticos sem escrúpulos pedem a sua demissão. Coincidência ou talvez não os jornais começam a dar conta dos descontentamento de Belém em relação ao PGR, quando pouco tempo antes o próprio Presidente esqueceu a sua existência e chamou sindicalistas ao palácio presidencial para falar de supostas pressões vindas do primeiro-ministro sobre os investigadores do caso Freeport. A bandalhice institucional chegou ao extremo de ser um braço direito do Presidente da República a lançar nos jornais a falsa informação relativa a supostas escutas a Belém promovidas pelo governo, chegou-se mesmo ao ponto de se lançarem insinuações relativas ao SIS.

Tenta-se a todo o custo passar a imagem de que o centro de tudo é Sócrates, mas isso não é verdade, este tipo de manobras é muito anterior ao actual primeiro-ministro e o ódio que este lhes motiva resulta do facto de ser teimoso, em condições normais já deveria ter cedido à chantagem. Chamaram-lhe maricas, o Ministério Público investigou (deve ser caso único no mundo e alguns dos nossos filósofos da Marmeleira esquecem-se de quando defenderam George Bush cujo currículo foi mantido em segredo) o seu diploma e até desenhos de casas, fizeram de tudo, até investigaram primos e um tio do PSD (que grande azar que tiveram) na esperança de provarem que se tinha deixado corromper no licenciamento do Freeport, fizeram-lhe escutas ilegais na esperança de o apanharem nalgum desabafo. E o que conseguiram provar? Começaram com grandes planos imaginados por uma magistrado de Aveiro e acabam por fazer uma comissão parlamentar de inquérito só para tentarem provar que disse uma mentireca.

O país está a pagar caro a morte lenta do cavaquismo, um grupo de gente que se convenceu de que tem o direito natural a governar e não aceita as decisões dos eleitores, não hesitando em destruir o prestígio das instituições, desde a Presidência da República ao primeiro-ministro, passando pelo Procurador-geral da República, ninguém escapa. Só que os mais ilustres cavaquistas estão mais interessados em ganhar fortunas, nos cargos de administradores não executivos da banca, na advocacia rica da gestão de influências e dos negócios offshore ou dos pareceres jurídicos pagos a peso de ouro do que em desempenhar cargos políticos mal remunerados.

Além de estarem à beira da terceira idade, queimados por escândalos financeiros, acomodados em cargos bem remunerados, com o seu mentor cada vez mais envelhecido, a elite do cavaquismo deixou a luta pelo poder entregue a segundas figuras sem princípios, gente em quem o povo não vê qualidades para governar e que percebendo a sua inferioridade não tem escrúpulos em recorrer ao golpe baixo, chega-se ao ponto de vermos um PSD a concorrer sem um programa e com um discurso que, pelos vistos, só os magistrados de Aveiro percebiam.

A bandalhice chegou a um ponto em que o país corre o risco de vergar sob a crise política e a democracia soçobrar aos golpes baixos. Talvez depois os cavaquistas ilustres apareçam para salvar o país, propondo a suspensão temporária da democracia como, aliás, já sugeriu Manuela Ferreira Leite.
Ps: Não resisti a transcrever este post de O Jumento

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Embaixador Britânico vs Velhos do Restêlo

Dez coisas que melhoraram em Portugal nos últimos 15 anos

Alexander Ellis,
Embaixador Britânico


Chegou a época do espírito natalício. Então, deixemos de lado quaisquer miserabilismos e concentremo-nos nas coisas boas - não como escape mas como realidade. Vivi em Portugal há quinze anos. Agora, de volta, quero sugerir dez coisas, entre muitas outras, que melhoraram em Portugal desde a minha primeira estadia. Não incluo aqui coisas que já eram, e ainda são, fantásticas (desde a forma como acolhem os estrangeiros até à pastelaria).

Aqui ficam algumas sugestões de melhorias:

- Mortalidade nas estradas; as estatísticas não mentem - o número de pessoas que morre em acidentes rodoviários é muito menor, cerca de 2000 em 1993 e de 776 em 2008. A experiência de conduzir na marginal é agora de prazer, não de terror. O tempo do Fiat Uno a 180km/h colado a nós nas auto-estradas está a passar.

- O vinho; já era bom, mas agora a variedade e a inovação são notáveis, com muito mais oferta e experiências agradáveis. Também se pode dizer a mesma coisa sobre o azeite e outros produtos tradicionais.

- O mar; Lisboa, em 1994, era uma cidade virada de costas para o mar; poucos restaurantes ou bares com vista, e pouca gente no mar. Hoje, vemos esplanadas e surfistas em toda a parte. Muita gente a aproveitar melhor um dos recursos naturais mais importantes do país.

- A zona da Expo; era horrível em 1994, cheia de poluição, com as antigas instalações petrolíferas. Agora é uma zona urbana belíssima, com museus e um Oceanário entre os melhores que há no Mundo.

- A saúde; muitas das minhas colegas têm feito esta sugestão - a qualidade do tratamento é muito melhor hoje em dia, apesar das dificuldades financeiras, etc. A prova está no aumento da esperança de vida, de cerca de 74 em 1993 para 78 anos em 2008.

- Os parques naturais; viajei muito este ano do Gerês

a Monserrate ; tudo mais limpo, melhor sinalizado, mais agradável. O pequeno jardim está, de facto, mais bem cuidado.

- O cheiro. Sendo por natureza liberal nos costumes sociais, não fui grande fã da proibição de fumar - mas, confesso, a experiência de estar num bar ou num restaurante em Portugal é hoje mais agradável com a ausência de tabagismo. E a minha roupa cheira menos mal no dia seguinte.

- A inovação; talvez seja fruto da minha ignorância do país em 1994, mas fico de boca aberta quando visito algumas das empresas que estão a investir no Reino Unido ; altíssima tecnologia, quadros dinâmicos e - o mais importante de tudo - não há medo. Acreditam que estão entre os melhores do mundo, e vão ao meu país, entre outros, para prová-lo.

- O metro de Lisboa. É limpo, rápido, acessível e tem estações bonitas.

- As cores; Portugal tem e sempre teve cores naturais bonitas. Mas a minha memória de 1994 era o aspecto visual bastante cinzento das cidades, desde a roupa até aos carros. Hoje há mais alegria - recordo um português que me disse, talvez com tristeza, que o país estava a tornar-se mais tropical.

Em termos de imagem, parece-me um elogio!



Esta é a minha lista. E a sua?

Alexander Ellis,





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É preciso vir um estrangeiro, dizer bem do meu país.

Já tinha saudades de ouvir dizer bem de Portugal.

Basta de VELHOS DO RESTELO !

Esses VELHOS se não estão bem em Portugal o melhor é irem daqui para fora !

Nota: Este belo naco de prosa foi-me enviado pelo Amigo Túbal, a quem endereço os meus agradecimentos.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Dica para facilitar a leitura e visão das fotos

Para quem não saiba aqui vai uma dica muito útil:
Quando o tipo de letra for muito pequeno ou as fotos de escala reduzida, dificultando a leitura ou a visão, carregue na tecla Ctrl (Controlo) e rode o rato para a frente ou para trás, até obter as condições ideais.
Quem é amigo, quem é?...

Castelo de Vide - Vila Velha

Este Amigo de um Amigo meu escreve mesmo bem! Vejam só se precisávamos destas fotos para conhecer a Vila Velha, (Castelo de Vide). Mas com elas ficou ainda mais enriquecido o nosso blog.

Estas fotografias sugerem-me o nosso coevo mais ilustre, filho daquela Vila, o Capitão Salgueiro Maia.

Imagino-o, descendo aquelas íngremes ruelas em carrinhos de ladeira, quais Panhard-AML de 1974, investindo contra os M48 de Cavalaria 7 em plena Rua do Arsenal!

Não sei se se recordam dos carrinhos de ladeira, não com rolamentos, como hoje se usa nos skates, mas com rodas de charrua fundidas no Tramagal. Só essas podiam ultrapassar os obstáculos da irregularidade do piso da calçada portuguesa, em basalto, como se vê nas fotos. Era um espectáculo!

Castelo de Vide, terra de castanhas e vinhedos, (vitis), sentinela vigilante e um dos postos mais avançados contra Castela. Muitos dos seus filhos terão embarcado nas naus do Infante.

As casas caiadas e bem conservadas, ex-libris de todo o Alentejo, são aqui particularmente brilhantes e imponentes.

Quantas vezes terá o Salgueiro Maia esfolado os joelhos ao descer estas ladeiras na sua "Panhard"!

Eis um portal gótico de uma habitação da vila com poiais de acesso ao piso inferior da rua. Este portal, agora guarnecido com madeira trabalhada por técnicos modernos, utilizando ferramentas sofisticadas, condiz muito bem com a riqueza da pedra do umbral gótico e dos poiais.

Outros portais, agora de arco redondo, mas igualmente imponentes e sugestivos de uma sociedade rica em bens e cultura, que construiu esta Vila e nela viveu por largos séculos.

Mais uma ladeira em calçada portuguesa que o Salgueiro Maia não desperdiçaria, desde que não atropelasse o gatinho branco.

O meu Amigo Antonino Mendonça, a quem agradeço estas preciosas fotos, faz-se fotografar junto ao gatinho branco, sinal de astúcia, paz e felicidade.

Finalmente o fontanário da Vila, peça de grande beleza arquitectónica e elemento indispensável para a vida das pessoas e dos animais, pois que além das bicas para recolha de água, ali se encontra a grande pia, onde os animais de trabalho eram trazidos a beber.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Consegui recuperar o texto que é muito interessante

REFLEXÕES EM CASTELO DE VIDE

Vila Velha, 25 de Janeiro de 2010

Desço do alto do castelo, depois de percorrer algumas ruas do Burgo Medieval, bem conservado dentro das muralhas mais antigas. Castelo de Vide estende-se por ali fora nos telhados multicolores, nas ruelas estreitas, nos horizontes largos.

Mesmo ali começa a Judiaria. Deambulo pelas suas vielas íngremes e floridas. Invade-me, então, a emoção esquecida dos tempos perdidos, das gestas bíblicas lidas no calor do lar, dos poemas escondidos cantados nas manhãs de sol, nos salmos rezados ou cantados em família, da vida de um povo perseguido e martirizado ao longo dos séculos.

Vieram de longe e aqui construíram o seu enclave, aqui construíram o seu lar, aqui construíram a sua sinagoga. Expulsos da grande Espanha, aqui tão próxima, por reis ditos católicos, aqui se acolheram, aqui criaram riqueza feitos mercadores ou artesãos, para lá dos arcos ogivais dos portados das suas casas. E enfeitaram e floriram as ruas. E foram pais de botânicos e médicos ilustres. E devem ter escrito poesia à semelhança do Job da Bíblia ou imaginado novelas bonitas como a de Rute, a Moabita… Certamente leram os profetas e alimentaram a sua esperança messiânica. Certamente sacrificaram e comeram o cordeiro pascal e cantaram seus cantares de alegria. E sofreram as perseguições santas. Fingir-se convertido para salvar a vida. A vida vale mais que as aparências…

E desci do castelo até ao Largo da Fonte pela rua da Fonte. Passei pela sinagoga na esquina do cruzamento com a Rua da Judiaria. Espreitei a ruína de alguns edifícios. Reparei nas plantas nascidas entre as pedras da calçada ou em vasos estrategicamente colocados. As duas portas. As ogivas e as gravuras nas pedras lavradas. Imaginei as barbas longas e o quipá sobre as cabeças hirsutas. Os textos sagrados bem guardados e lidos e estudados por novos e por velhos. E a esperança de um mundo melhor…

Shalom, amigos!

Shalom, sombras de antepassados espoliados! Shalom!

E a paz regressa-me à alma, ao frio e à humidade destas ruas estreitas e íngremes. E desço cuidadosamente até à fonte. Uma gatinha triste e carente, de pelo branco fininho, solicita-nos umas festas. E vagueia sobre a história das pedras, das casas e das ogivas. Sabe lá ela que aqui viveu um povo que, quase moribundo, ressuscita cada dia que passa… E dele somos herdeiros. Se não lhe herdamos o sangue, herdamos-lhe a cultura que nos envolve, quer queiramos quer não.

Shalom, amigos.

Cuidadosamente, desço até à Fonte da Vila. Uma cúpula construída sobre seis colunas. Quatro bicas jorram água ininterruptamente, há mais de quinhentos anos. No cimo, uma tulipa - flor que os judeus levaram do Paquistão para a Holanda - é suportada por duas crianças e, na sua base, uma pequena caldeira. Aqui se deitava a água para que a tulipa não secasse. Símbolos de vida e da vida…

E, aqui junto desta fonte que me lembra o baptismo cristão e a vida daqueles que foram forçados a recebê-lo, rezo para que a intolerância religiosa (e política e social e ideológica e cultural e…) desapareça e uma sadia convivência dos povos e das gentes se estabeleça em todo o Mundo.

Por ironia do destino, escrevo estas reflexões no dia 25 de Janeiro, dia em que termina o oitavário de oração pela unidade das igrejas cristãs. Aqueles que seguem Jesus de Nazaré – o profeta do amor e da tolerância – mostram-se incapazes de fomentar a união e de viver na aceitação das diferenças. Continuam a reforçar o seu próprio autoritarismo, sem dignificar a sua autoridade…

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Encontro de Amigos

Com muita pena minha, não pude ir ao almoço de amigos da última quarta-feira de Janeiro, mas o Matita enviou-me um texto sobre o assunto que publico com muito gosto:

"IA SENDO ROCAMBOLESCO, PELO MENOS RELATIVAMENTE A MIM E JÚLIO FERNANDES.

O CAMPOS DISSE QUE NÃO IA POR OCUPAÇÕES EXTRA, QUE TELEFONASSE AO ROBALO PARA SABER QUEM IA, QUE NÃO ESQUECESSE DE FALAR NO ALMOÇO DE CASTELO BRANCO E QUE QUERIAM FAZER UM ALMOÇO COM O OLIVEIRA GUARDADO.

ASSIM FIZ E O ROBALO A 1º COISA QUE ME DISSE ERA QUE PROVAVELMENTE NÃO IA E QUE O ALMOÇO ERA COM O O. GUARDADO NA CHURRASQUEIRA DO CAMPO GRANDE, QUEM ESTAVA A TRATAR ERA O CONTREIRAS; PEDI-LHE O TELEFONE DO CONTREIRAS MAS NÃO O TINHA DE MOMENTO.

TELEFONEI AO FERNANDES A INFORMA-LO QUE O ALMOÇO ERA NA CHURRASQUEIRA DO C. GRANDE.

NA 4ª FEIRA O ROBALO TELEFONOU-ME A DIZER QUE O ALMOÇO JÁ NÃO ERA NA CHURRASQUEIRA MAS NO BALEAL,

DE SEGUIDA TELEFONEI AO J. FERNANDES PARA VOLTARMOS À 1ª FORMA.

FINALMENTE LÁ CHEGÁMOS AO BALEAL POUCO DEPOIS DAS 13 COMO HABITUALMENTE PARA O NOSSO NOSTÁLGICO CONVÍVIO QUE DESTA VEZ NÃO FOI MAIORITARIAMENTE ENCORPADO PELO TINTOL E POLVO À LAGAREIRO MAS POR FEBRAS NA BRASA, POLVO E OUTROS COM O RESPECTIVO COPINHO.

ESTIVEMOS PRESENTES 10 EX- AAB A CONFIRMAR: GUILHOTO, ACABADO, CONTREIRAS, JACINTO, PRATAS, ROBALO, TÚBAL, FERNANDES, MATA E O AMIGO DO J. CHARRAMA QUE COSTUMA ACOMPANHAR-NOS.

FALÁMOS DE ASSUNTOS DIVERSOS EXCEPTO FELIZMENTE FUTEBOL E POLÍTICA, EMBORA EU GOSTE É UM FACTO

QUE SÃO ASSUNTOS MUITO SENSÍVEIS E QUE FACILMENTE PODEM ESTRAGAR UM BOM CONVÍVIO E TIVEMOS,

MELHOR DIZENDO, O GUILHOTO TEVE DE FAZER O PAPEL DE POLÍCIA BEM SUCEDIDO PARA EVITAR UM ROUBO/DESVIO, FOI ASSIM:

O GUILHOTO CHAMOU-ME A ATENÇÃO PARA UM CLIENTE QUE TINHA TIRADO E LEVADO UM SOBRETUDO QUE PARECIA NÃO SER DELE E SE ERA MEU QUE FOSSE JÁ ATRÁS DELE.

VERIFIQUEI QUE O MEU CASACO ESTAVA NO LUGAR E AVISEI O FERNANDES QUE FOI ATRÁS , QUANDO O ENCONTROU A 50 METROS DO RESTAURANTE, O HOMEM ESTAVA ADMIRADO COM COISAS QUE TINHA NO BOLSO E NÃO ERAM DELE - O QUE FAZ UM COPITO A MAIS - FOI QUANDO O FERNANDES LHE DIZ QUE O SOBRETUDO ERA DELE E AÍ DESFEZ-SE O MISTÉRIO.

E POR AQUI TERMINÁMOS, SATISFEITOS POR ENCONTRAR OS NOSSOS AMIGOS E ESPERANDO REENCONTRÁ-LOS NO PRÓXIMO MÊS."

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Médicos Cubanos e os Alentejanos

«A reportagem no PÚBLICO de ontem sobre os médicos cubanos no Alentejo animou-me. Disse a dra. Olga Dubé que "está sistematicamente a ser confrontada com uma reacção muito peculiar dos alentejanos". "Em resposta a qualquer chamada de atenção que lhes faço, eles respondem: "Calma, doutora!"."

É o grande choque cultural do ano novo. Tornar-se-ão os alentejanos mais cubanos ou os cubanos mais alentejanos? Contra qualquer outro povo, eu apostaria na vitória dos cubanos. Mas ninguém passa algum tempo no Alentejo sem sucumbir a uma profunda alentejenização.

Os cubanos são o povo favorito de quase toda a gente que os conhece. O meu pai, quando lá ia, chegou a procurar um cubano desinteressante, a ver se existia tal coisa. Nunca encontrou. Incluindo o Fidel Castro. À minha mãe, conservadora e inglesa, calhou adoecer quando lá foi. Temia o pior, mas anunciou que nunca recebeu um tratamento médico tão bom.

Por muito alegres que sejam os cubanos no Alentejo, não têm hipótese. A dra. Dubé, com a inteligência e a empatia cultural que caracteriza os cubanos, já descobriu que um dia, não muito distante, vai começar a ter calma. Depois, mais um bocadinho. Até ficar completamente alentejana, se não conseguir fugir dali. O que não é fácil: o litoral alentejano, afinal, é para onde todos nós gostaríamos de fugir.

Fica aqui o conselho amigo. Os alentejanos não só são imutáveis como tornam alentejanas todas as pessoas e coisas em que tocam. Até cubanos.» [Público]

Por Miguel Esteves Cardoso.

Nota: O Miguel E.C. não sabe é que é muito mais fácil os médicos cubanos tornarem-se alentejanos, porque foi um Alentejano que descubriu a ilha de Cuba e que lhe deu o nome da sua terra natal - esse foi o grande Almirante Cristóvão Colombo. Portanto a afiniade entre cubanos e alentejanos é notória.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Glória in excelsis Deo

Recordemos o saudoso Maestro HERBERT VON KARAJAN, dirigindo um Coro Notável da "Mass of Coronation" de Mozart na Basílica de São Pedro em Roma.

Para ouvir faça clik sobre o enderêço abaixo, pf.

http://www.youtube.com/whatch?v=MhKWwoAuuC8

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MONSANTO, a aldeia mais portuguesa de Portugal

A propósito de Monsanto, localizei estas belíssimas fotos que aqui deixo para prazer meu e dos visitantes




Fotos de C. Cabral (Por deferência de O Jumento)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Diário de um Amigo de um Amigo meu

Nesta entrada de 2010 fica bem um pouco de poesia: Este Amigo de um Amigo meu passou nestes dias chuvosos por Monsanto e inspirou-se naqueles calhaus, (gigantes petrificados por castigo divino, como lhes chama), e produziu um texto que nos dá muito prazer publicar aqui.

Recorda que daquelas bandas eram muitos dos nossos companheiros dos bancos distantes da Escola de Beja: "à medida que ia lendo as placas toponímicas na berma da estrada ou atravessando as povoações beiroas, (Penamacor, Enguias, Meimoa, Benquerença, Quadrazais, Sortelha, Valverde, Fundão...), vultos juvenis iam-me surgindo esfumados nas memórias distantes. E recordei amigos perdidos no voracidade do tempo: o Fragoso das Enguias, o Proença de Videmonte, o Beites da Benquerença; e o Mata que continua a acompanhar-nos nas aventuras da vida: estes entraram comigo em 1954. E muitos outros, anteriores ou posteriores àquela data."

Monsanto - Beira -Baixa, 28 de Dezembro de 2009

E começámos a subida do monte santo.

Uma chuva miudinha tornava escorregadias as pedras da calçada e obrigava-nos a redobrar os cuidados para não cair.

Uma névoa misteriosa envolvia a subida, as casas, as pedras enormes e o castelo que apenas imaginávamos existir lá no alto.

Do baluarte, sonhámos paisagens maravilhosas para além do nevoeiro cerrado e imaginámos a vitela milagrosa, recheada de cereais, a rebolar por aquelas encostas a enganar o inimigo que sitiava o povoado faminto: coisas que a lenda tece, maravilhas que o povo conta...

O romântico de uma igreja, a nobreza de uma pousada, o gótico de uma capela, o galo prateado da torre do relógio que recorda o prémio da "aldeia mais portuguesa de Portugal",vão suavizando o frio do vento que nos regela o rosto, mais o esforço da subida íngreme.

Mas vale a pena...

Sucede-se o casario granítico. Há laivos de brancura na caixilharia das janelas e pinceladas de cal nos portais das casas.

Há casas antigas, abandonadas, esventradas, dormindo o sono eterno, encostadas aos grandes blocos acolhedores do granito protector, esperando ainda uma ressurreição que tarda.

Há restaurantes e tavernas e uma gruta mesmo à beira do caminho. E o nevoeiro espesso não permite que o nosso olhar repouse na planície que imaginamos estender-se a nossos pés.

E continuámos a subir.

Uma muralha de penedos ladeia a última vereda que dá acesso ao castelo. Um ventinho lúgubre assobia, modela, esfrega-se, em carícia, no granito escuro. Um cão, igualmente escuro, em natural mimetismo, espreita friorento na crista de um rochedo redondo.
Que rochedos são estes que fazem barreira às gentes?

E não é que imagino gigantes inimigos atacando a pobreza do povoado e que os deuses do lugar castigaram petrificando-os e aprisionando-os ali para sempre? E, se a todos os inimigos dos pobres fosse dado o mesmo destino?

Haveria mais pedras do que terras para semear...

Desço com cuidado redobrado. Não vá um pé perder o pé e resvalar por ali abaixo e ir parar não sei onde. E olho de novo as casas encostadas à força granítica dos rochedos, adormecidas no tempo, embaladas pelas lendas dos tempos antigos, acolhedoras e renovadas interiormente com gosto e conforto.

Eu sei que aqui repousa, simbolicamente conservada, a força do Homem que construiu uma montanha sagrada, um monte santo. E, como tudo o que é sagrado e santo, também este povoado revestido de granito escuro, envolto em nevoeiro cinzento, embalado pelo vento agreste, pode ser para mim e para muitos, sinal de esperança e confiança na Humanidade!

PS(Post Scriptum): Este Amigo de um Amigo meu é o Antonino Mendonça, como já todos repararam, e escreve muito bem! Obrigado e BOM ANO para ele e para todos!