Milfontes era, naqueles primeiros anos da década de cinquenta do século XX, um pequeno aglomerado de casas térreas, à excepção da do Dr Águas, dispostas em ruas estreitas todas dotadas de calçada portuguesa e iluminação nocturna a candeeiros de petróleo, na margem direita do Rio Mira e envolvendo dois edifícios de especial interesse: o Castelo e sua Barbacã, e a Igreja paroquial. Aquele distinguindo-se pela vetustez sombria, defendido por grande fosso donde surgiam heras que o envolviam escondendo as paredes pardacentas e esta, a Igreja, pela simplicidade de linhas e torre sineira, muito bem caiadinha de branco com faixas azuis, muito alentejanas.
A entrada fazia-se por uma única rua que dava seguimento à estrada e o visitante deparava com um pequeno largo, a que chamávamos “Praça do Almada”, por ali residir essa figura incontornável que era um ex-combatente da Grande Guerra, de nome Almada. Dizia-se familiar de Almada Negreiros, e para fazer jus ao nome exibia alguns dotes poéticos e declamatórios, inflamados por efeito de alguns gases de que fora vítima na Flandres.
Nesse largo paravam as camionetas de carreira do “João Cândido Belo” vindas do Cercal e dali irradiavam quatro ruas: três para o interior do povoado e a quarta para o Cais.
Este Cais, no Rio Mira, deu alguma notoriedade a Milfontes porque era o primeiro ponto de escala para os veleiros, (“Rio Mira” e “Milfontes”), que vindos do Barreiro com carregamentos de adubo subiam o rio até Odemira, onde substituíam a carga por trigo ou cortiça e regressavam a Lisboa. Os lavradores faziam desde as suas propriedades até Odemira, que funcionava como entreposto, o caminho inverso: levavam trigo da sua colheita para os celeiros da FNPT, (Federação Nacional dos Produtores de Trigo), e traziam o adubo para as sementeiras da safra seguinte.
Assim o Rio cumpria a sua função que terá dado o nome à Vila de Odemira: “òdos-ou”, caminho. O Rio Mira foi o grande caminho, "òdos", que permitiu o acesso a povos fenícios e gregos, ao interland serrano do maior concelho de Portugal.
Mas voltemos a Milfontes e nossos serões de convívio com o vate da terra: lembro o saudoso Isidoro e o bom companheiro Jorge Brito que exploravam até à exaustão os dotes declamatórios do Sr Almada.
A entrada fazia-se por uma única rua que dava seguimento à estrada e o visitante deparava com um pequeno largo, a que chamávamos “Praça do Almada”, por ali residir essa figura incontornável que era um ex-combatente da Grande Guerra, de nome Almada. Dizia-se familiar de Almada Negreiros, e para fazer jus ao nome exibia alguns dotes poéticos e declamatórios, inflamados por efeito de alguns gases de que fora vítima na Flandres.
Nesse largo paravam as camionetas de carreira do “João Cândido Belo” vindas do Cercal e dali irradiavam quatro ruas: três para o interior do povoado e a quarta para o Cais.
Este Cais, no Rio Mira, deu alguma notoriedade a Milfontes porque era o primeiro ponto de escala para os veleiros, (“Rio Mira” e “Milfontes”), que vindos do Barreiro com carregamentos de adubo subiam o rio até Odemira, onde substituíam a carga por trigo ou cortiça e regressavam a Lisboa. Os lavradores faziam desde as suas propriedades até Odemira, que funcionava como entreposto, o caminho inverso: levavam trigo da sua colheita para os celeiros da FNPT, (Federação Nacional dos Produtores de Trigo), e traziam o adubo para as sementeiras da safra seguinte.
Assim o Rio cumpria a sua função que terá dado o nome à Vila de Odemira: “òdos-ou”, caminho. O Rio Mira foi o grande caminho, "òdos", que permitiu o acesso a povos fenícios e gregos, ao interland serrano do maior concelho de Portugal.
Mas voltemos a Milfontes e nossos serões de convívio com o vate da terra: lembro o saudoso Isidoro e o bom companheiro Jorge Brito que exploravam até à exaustão os dotes declamatórios do Sr Almada.
“Vila Nova de Milfontes
Rainha do Alentejo
Andam saudades nos montes
Nos dias que te não Vejo!”
“Rio Mira Vai cheio
E o barco não anda
Tenho o meu amor
Lá da outra banda
Lá da outra banda
E eu cá deste lado
Rio Mira vai cheio
E o barco parado!”
Isto no que respeita a versos e rimas, porque a prosa também não era deixada por mãos alheias. Ficou célebre uma composição muito extensa que não vou aqui reproduzir, citando apenas o primeiro período de que alguns se recordarão:
“ Em frente ao Cais destaca-se o bosque de Vila Formosa, atraente e encantador!.......”
Outro lugar que merecia as atenções do nosso conviva era o CANAL, porto natural a norte da vila, onde os pescadores se abrigavam das intempéries e que hoje, com alguns melhoramentos, serve melhor o fim a que se destina, embora com grandes limitações de capacidade e segurança. Os pescadores artesanais, dotados de pequenas embarcações, não podem recolher-se no Rio porque a barra é muito batida, com mar alteroso, e por isso recolhem, com mais segurança, para o Canal.
Como poderemos esquecer esses saudosos tempos de Milfontes!?............ a praia do norte, que se alcançava através das dunas, (viagem penosa no regresso), a praia do farol, com suas correntes perigosas quer no rio quer na degola entre o norte e o rio, conforme as marés, a praia das furnas, onde apanhei dois sustos: um por risco de afogamento ao atravessar uma grande lagoa que se formou entre a praia e um baixio, (ilha de areia), e outro ao abrir uma lata encontrada na praia, quando passeava, em maré baixa, com o C. Torrão. Perante aquele achado, um pequeno contentor em folha de flandres, cerca de dois a três litros de capacidade, devidamente fechado e com boa apresentação, resolvemos abrí-lo. Qual não foi o espanto quando o conteúdo em contacto com a água, começou a fumegar muito. O C. Torrão desatou a correr desalmado e eu fiquei preplexo, talvez por não medir bem as circunstâncias, e só depois corri também, quando me apercebi de que poderia estar em presença de um produto explosivo. Não era! Porque, se fosse..., já tinha sido. Enfim... peripécias de juventude!
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