No final da década de trinta e princípios da de quarenta do século XX, a vida não era fácil para todos, mas nos meios rurais as coisas complicavam-se muito mais.
Entre as festas do calendário chamado gregoriano, a mais celebrada era o Natal, provavelmente devido às circunstâncias climatéricas em que ocorria e, vamos lá, porque era a festa da vida. Era dali que tudo começava: os dias começavam a crescer, sem que soubéssemos porquê e a salgadeira era recomposta para o resto do ano.
Depois havia a comemoração do nascimento de Um Menino chamado Jesus que vinha pela chaminé porque não cabia nos buracos do telhado nem queria arredar as telhas por causa da chuva, e deixava umas guloseimas ou pequenas prendas para a pequenada.
A semana que antecedia o Natal caracterizava-se pela ausência da Mãe, uma ou duas vezes, que se deslocava à aldeia a mais de cinco quilómetros: saia de manhãzinha, montada na burra, e só voltava à tardinha, às vezes noite cerrada.
Na ida, se tinha chovido muito, a Ribeira dos Pegões levava muita água, a burra não enfrentava a força da corrente e ela tinha de ir pelo serro do “arrodeio”, passando pelo Porto das Carretas e depois pelo Mar Alto.
A Ribeira dos Pegões e a Lagoa de Água de Peixe eram sítios difíceis de atravessar quando chovia muito, por isso o trajecto era muito maior, mas o único possível.
Ao fim do dia, enquanto o Pai ajudava o vaqueiro a recolher e acomodar os animais, os meus irmãos e eu, (três ao todo), púnhamo-nos de atalaia à esquina do monte, a ver quando a Mãe aparecia no alto do Monte da Cruz ou, mais tarde e com menos visibilidade, na vereda por entre o montado da herdade: além do frio que sentíamos e do desconforto da ausência da Mãe, aspirávamos também por algum rebuçadito que nos daria ao chegar, só para calar a curiosidade, porque as prendinhas e os rebuçados ou outras pequenas guloseimas, só o Menino Jesus colocaria no sapatinho ao pé da chaminé, na noite de Natal.
Os dois dias antes do Natal, eram de grande azáfama na cozinha: a mãe e a minha irmã mais velha, às vezes ajudadas pela Vitória, dedicavam-se a fazer os fritos, (coscorões), as filhós e as azevias de grão ou de batata-doce, além dos indispensáveis sonhos, (pesadelos?).
Os homens: meu pai, meu irmão e eu, claro, entregávamo-nos ao trabalho de preparação da lenha e sobretudo do “madeiro de natal”.
Esta figura do “madeiro do natal” era muito importante, não só porque permitia fazer uma fogueira maior, produzindo mais calor na casa, mas sobretudo porque, não ardendo todo na noite de natal, o restante servia de ajuda para enfrentar e acalmar as trovoadas que se previam, especialmente as de Maio que eram as mais perigosas.
Não havia propriamente Seia de Natal. Depois de uma Seia normal, íamos cedinho para a caminha não só porque estava muito frio, apesar da lareira melhorada, mas sobretudo para não atrapalhar o Deus Menino que vinha à meia-noite depositar os presentes nos sapatinhos deixados junto à chaminé.
O Dia de Natal é que era festejado bem cedo, com a descoberta do que a cada um o Deus Menino deixara e depois as refeições melhoradas com os acompanhamentos que a Mãe preparara para o efeito.
O Presépio, era uma composição “sui géneris” feita por minha saudosa mãe, onde as figurinhas humanas de José, Maria e o Menino, eram colocadas numas palhinhas rodeadas dos animais tão nossos conhecidos como o burro, a vaca, as ovelhinhas e os porcos, tudo adornado com searinhas, (pequenos pires com sementes germinadas e crescidas até mais de cinco centímetros, antecipadamente preparados).
Estas são as memórias que guardo dos meus primeiros natais, muito pobres e modestos, mas sempre vividos com a alegria e o entusiasmo próprios das crianças.
Entre as festas do calendário chamado gregoriano, a mais celebrada era o Natal, provavelmente devido às circunstâncias climatéricas em que ocorria e, vamos lá, porque era a festa da vida. Era dali que tudo começava: os dias começavam a crescer, sem que soubéssemos porquê e a salgadeira era recomposta para o resto do ano.
Depois havia a comemoração do nascimento de Um Menino chamado Jesus que vinha pela chaminé porque não cabia nos buracos do telhado nem queria arredar as telhas por causa da chuva, e deixava umas guloseimas ou pequenas prendas para a pequenada.
A semana que antecedia o Natal caracterizava-se pela ausência da Mãe, uma ou duas vezes, que se deslocava à aldeia a mais de cinco quilómetros: saia de manhãzinha, montada na burra, e só voltava à tardinha, às vezes noite cerrada.
Na ida, se tinha chovido muito, a Ribeira dos Pegões levava muita água, a burra não enfrentava a força da corrente e ela tinha de ir pelo serro do “arrodeio”, passando pelo Porto das Carretas e depois pelo Mar Alto.
A Ribeira dos Pegões e a Lagoa de Água de Peixe eram sítios difíceis de atravessar quando chovia muito, por isso o trajecto era muito maior, mas o único possível.
Ao fim do dia, enquanto o Pai ajudava o vaqueiro a recolher e acomodar os animais, os meus irmãos e eu, (três ao todo), púnhamo-nos de atalaia à esquina do monte, a ver quando a Mãe aparecia no alto do Monte da Cruz ou, mais tarde e com menos visibilidade, na vereda por entre o montado da herdade: além do frio que sentíamos e do desconforto da ausência da Mãe, aspirávamos também por algum rebuçadito que nos daria ao chegar, só para calar a curiosidade, porque as prendinhas e os rebuçados ou outras pequenas guloseimas, só o Menino Jesus colocaria no sapatinho ao pé da chaminé, na noite de Natal.
Os dois dias antes do Natal, eram de grande azáfama na cozinha: a mãe e a minha irmã mais velha, às vezes ajudadas pela Vitória, dedicavam-se a fazer os fritos, (coscorões), as filhós e as azevias de grão ou de batata-doce, além dos indispensáveis sonhos, (pesadelos?).
Os homens: meu pai, meu irmão e eu, claro, entregávamo-nos ao trabalho de preparação da lenha e sobretudo do “madeiro de natal”.
Esta figura do “madeiro do natal” era muito importante, não só porque permitia fazer uma fogueira maior, produzindo mais calor na casa, mas sobretudo porque, não ardendo todo na noite de natal, o restante servia de ajuda para enfrentar e acalmar as trovoadas que se previam, especialmente as de Maio que eram as mais perigosas.
Não havia propriamente Seia de Natal. Depois de uma Seia normal, íamos cedinho para a caminha não só porque estava muito frio, apesar da lareira melhorada, mas sobretudo para não atrapalhar o Deus Menino que vinha à meia-noite depositar os presentes nos sapatinhos deixados junto à chaminé.
O Dia de Natal é que era festejado bem cedo, com a descoberta do que a cada um o Deus Menino deixara e depois as refeições melhoradas com os acompanhamentos que a Mãe preparara para o efeito.
O Presépio, era uma composição “sui géneris” feita por minha saudosa mãe, onde as figurinhas humanas de José, Maria e o Menino, eram colocadas numas palhinhas rodeadas dos animais tão nossos conhecidos como o burro, a vaca, as ovelhinhas e os porcos, tudo adornado com searinhas, (pequenos pires com sementes germinadas e crescidas até mais de cinco centímetros, antecipadamente preparados).
Estas são as memórias que guardo dos meus primeiros natais, muito pobres e modestos, mas sempre vividos com a alegria e o entusiasmo próprios das crianças.
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