Como remate da nossa visita a Coimbra aqui fica a fotografia da nossa primeira anfitriã, a São, como quer que a tratemos, por nos considerar seus amigos, o que muito nos orgulha.
Em representação de todos os companheiros e amigos que tiveram o previlégio de usufruir da recepção que nos fez no dia 28 de Outubro de 2009, em Coimbra, aqui lhe rendo a minha homenagem e preito de admiração, como mulher forte que é, com os agradecimentos de todos, pelo modo como fomos recebidos.
Muito obrigados, e até uma próxima oportunidade, que esperamos seja breve!
O Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Beja, foi o alfobre onde nasceram e cresceram muitos amigos, hoje espalhados por este Portugal imenso, dando à sociedade o seu melhor.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Uma simples homenagem
Ainda e sempre Coimbra
Fotos cedidas pela nossa anfitriã Drª Marília Bacanhim a quem endereço os meus agradecimentos.
Durante a travessia da Ponte Pedonal sobre o Mondego o Lourenço não se cansou de referir pontos importantes e que lhe eram familiares por ali ter passado alguns anos, de juventude.
A meio da ponte fez-se a fotografia de grupo
Este é o Pavilhão de apoio ao sítio arqueológico de Santa Clara a Velha. Ali funciona um auditório, várias salas de exposições e o Centro de Interpretação do "sítio".
Ainda a propósito de Coimbra - A Tricana e os Ursos
O progresso não perdoa. O Programa Polis, em Coimbra, criou espaços muito bonitos e funcionais – é uma delícia passear pelas margens do “Basófias”, agora dominado e transformado num espelho de água permanente. Pena é que o civismo de alguns e a incúria de outros, refiro-me aos serviços camarários, permitam a conspurcação daquelas águas límpidas que vem da nossa serra mais alta, a Estrela. Carrinhos de super-mercado contei uma boa meia dúzia, deitados ao rio. Uma pena! Só que a beleza natural é tanta que, por mais barbaridades que façam, não a conseguirão destruir.
Onde dantes havia Tricanas, nas margens do Mondego, cantadas pelos poetas mais representantivos do nosso cancioneiro, está agora um Urso verde, de plástico claro.
A Tricana, essa foram colocá-la numa rua íngreme, quase inacessível, da zona histórica da cidade, ali mesmo ao pé da Sé Velha, onde outros "ursos" se deixaram fotografar a seu lado.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Fomos a Coimbra, pois fomos!!!
E saímos cedinho porque a jornada era longa, digamos mais longa do que o habitual, mas o Alfa torna tudo mais próximo e por isso tivemos de obedecer aos horários da CP.
Alguns levantaram-se às seis e apressaram-se nos atavios para às oito em ponto estarem em Santa Apolónia, estação de origem do percurso, estimado em hora e meia de duração.
E lá estavam todos os que deviam estar, pois que outros foram para o Oriente, por comodidade e conveniência próprias relativamente às áreas de residência.
O Dr José dos Anjos, encarregara-se da logística de aquisição dos bilhetes e estabelecimento dos contactos com a nossa anfitriã em Coimbra a Drª Maria da Conceição, ("São" para os amigos).
Convém talvez dizer o porquê de ser uma senhora a nossa anfitriã e aí vai a explicação: era nosso objectivo, quando da programação da ida a Coimbra, encontrar o Companheiro Manuel dos Santos Catarino que sabíamos residir naquela cidade. Ao estabelecer os contactos preparatórios, o Guilhoto, nosso homem da logística e relações sociais, foi o primeiro a ser surpreendido pela notícia do falecimento do Manuel Catarino, ocorrida há pouco menos de um ano devido a doença fulminante que o acometeu. Perante tão infausta notícia, a primeira reacção foi de anulação do projecto de ida a Coimbra, mas a São, (Drª Maria da Conceição, viúva do Manuel Catarino) fez questão de que tal não acontecesse, insistindo que mantivéssemos o projecto porque ela própria e a Filha mais velha, Drª Marília, seriam as nossas guias e acompanhantes na visita que quiséssemos fazer à cidade. Surgiu assim um novo motivo para a ida a Coimbra: homenagear a memória do nosso antigo Companheiro e Amigo!
E assim, às oito horas precisas do dia 28, o Alfa Pendular para o Porto sai de Santa Apolónia transportando na carruagem do Bar, o grupo de amigos que se completou na Estação do Oriente, ao todo onze elementos, a saber: Antonino Mendonça, Jacinto Latas, Anjos Guilhoto, Lourenço,(um out-sider que não dispensa a nossa companhia e nós a dele), Contreiras, Manuel Túbal, Francisco Acabado e Nobre de Campos, embarcados em Santa Apolónia, e depois o Robalo, o Mata e o Fernandes, (outro out-sider que preza a nossa companhia), que entraram no Oriente.
O Jacinto Latas e o Xico Acabado
O Contreiras e o Túbal
O Antonino Mendonça e o José dos Anjos Guilhoto
O Latas e o Campos (Noca)
À chegada a Coimbra-B aguardava-nos a Drª Maria da Conceição, "a São", a partir de agora
Aspecto do grupo progredindo na plataforma da estação de Coimbra-B
O grupo todo a meio da ponte pedonal sobre o Mondego
Depois de apreciarmos a beleza da cidade, já conhecida, e agora enriquecida pelas obras do Programa Polis que foi concretizado nas margens do Mondego, (antigo Basófias, mas hoje um espelho de água que permite a prática de desportos náuticos de toda a ordem), atravessada a Ponte pedonal, deparou-se-nos o Convento de Santa Clara a Velha, monumento romano/gótico que remonta ao século XIV cujas ruinas se encontravam sepultadas no lôdo das margens desregradas do Mondego e que, após os trabalhos de regularização dos caudais e consolidação das margens do rio, foi possível reerguer, numa acção de recuperação arqueológica digna dos maiores encómios. Foi mesmo atribuído um dos prémios mundialmente mais famosos aos arquitectos e arqueólogos, responsáveis por tão completa e rigorosa reconstituição, que ainda está em marcha.
A São e o Noca com Santa Clara em fundo
Aspecto mais esclarecedor do que ainda falta recuperar da parte conventual
O Fernandes e a Drª Marília no interior da igreja conventual
Outro aspecto da ábside
Terminada a visita ao Convento de Santa Clara a Velha, seguiu-se o almoço num restaurante à beira rio, onde nos foi servida uma fritada de peixe acompanhada de um bom Douro da Casa.
Ementa do Restaurante/Cervejaria "A Portuguesa"
Aspecto da mesa presidida pela São
Outro pormenor em que o Mata está mais entusiasmado e o Fernandes sempre fotogénico
O Fernandes e o Antonino, ambos no seu melhor
Aqui, o Latas e o Xico Acabado estão bem dispostos, como sempre
Do outro lado da mesa o Túbal, o Guilhoto, o Robalo e O Lourenço consultam o cardápio
Terminado o almoço, fomos para a baixa da cidade embrenhar-nos na cultura daquela histórica urbe. Começamos por Santa Cruz, onde admirámos e recordámos o nosso primeiro rei, Afonso I, que ali está sepultado.
Admirámos o púlpito de João de Ruão, obra única e inigualável
Depois na Sé Velha, pudemos ver o estilo românico, na sua expressão mais pura
E esta concha gigante que serve de Pia de água benta
E esta concha gigante que serve de Pia de água benta
Vimos ainda a casa onde viveu Zeca Afonso, enquanto estudante, mesmo ali frente à Sé Velha.
Comprados os souvenires para as nossas jovens esposas e feitas as despedidas da nossa guia que tão simpaticamente nos recebeu e acompanhou durante todo o dia, foi tempo de regressar.
Pelas 18H28 saimos de Coimbra-A e às 18H45 precisas saímos de Coimbra-B no Alfa Pendular rumo a Lisboa. Foi uma jornada muito preenchida e agradável para todos os que nela participaram.
Nota final: É oportuno fazer aqui duas referências especiais:
A primeira à Drª Maria da Conceição, "São", e à filha Drª Marília, pela simpatia, diria até carinho, com que nos receberam - o nosso muito e muito obrigado, bem à portuguesa!
A segunda é ao nosso relações sociais e promotor da logística, o Dr José dos Anjos Guilhoto, que foi incansável no tratamento de todos os pormenores para que tudo decorresse bem, como decorreu. Nem se esqueceu de uns saborosos pastéis de Belém para quebrar o jejum dos mais incautos. Um abraço, Zé, que penso ser de todos, e até à próxima, provavelmente ao Porto.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Vamos a Coimbra? Vamos!!!
Depois de uma aplicada logística a cargo do Guilhoto, está tudo nos carris para que a nossa visita à Cidade dos Estudantes seja uma realidade interessante.
O Alfa Pendular das 08H00, Santa Apolónia, será o transporte confortável que nos levará até Coimbra-B, onde chegaremos pelas 09H30. Seguir-se-á uma visita a pontos interessantes da cidade e depois um almoço de convívio, em restaurante que as nossas anfitriãs, (a viúva e a filha do malogrado Catarino, entretanto falecido), nos indicarão com a maior generosidade.
A elas os nossos agradecimentos antecipados.
Esperamos que seja uma boa jornada! Até lá!
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Colaboração de um Amigo de um Amigo meu
Na sequência das turbulentas e acesas discussões do almoço de ontem, anexo um conto retirado do "site" Servicios koinonia. Os dois paradigmas de Igreja estão perfeitamente desenhados nesta pequena história brasileira. A Igreja formal, rica de arte e ouro, poderosa e imponente, fechada aos pobres e ao mundo, solenemente cantada em desconhecidas linguagens, sob lustrosas cúpulas ornamentadas a ouro e prata. No outro lado, perdida no nevoeiro da vida e do mundo, está a igreja comunidade fraterna, atenta aos mais pobres, onde os gestos realizam precisamente aquilo que significam: o pão é verdadeiramente pão e, partilhado, é verdadeiramente o Corpo de Cristo; onde o vinho é verdadeiramente vinho e, partilhado, é verdadeiramente vinho para a alegria e salvação de muitos.
Deixei-me vencer, ao ler este conto, não só pela poesia que o envolve, mas sobretudo pela esperança de que, na igreja/comunidade fraterna, o Cristianismo não morrerá nunca. Porque "pobres sempre os tereis convosco".
Não quero alargar-me mais na minha reflexão. Faz bem ler este conto!
Um abraço
A.M.
Deixei-me vencer, ao ler este conto, não só pela poesia que o envolve, mas sobretudo pela esperança de que, na igreja/comunidade fraterna, o Cristianismo não morrerá nunca. Porque "pobres sempre os tereis convosco".
Não quero alargar-me mais na minha reflexão. Faz bem ler este conto!
Um abraço
A.M.
A Ceia Eucarística em São Pedro
Sávio CORINALDESI
Irmã Olinda tinha chegado fazia poucos dias do Brasil para completar seus estudos em Roma e preparar-se para uma das missões da Congregação. Na tarde da Quinta Feira Santa, a superiora perguntou à Irmã Teresa se poderia acompanhar a jovem brasileira em São Pedro, onde tinham conseguido dois ingressos para a Missa do Lava-pés.
A basílica resplandecia de luzes e a irmãzinha estava deslumbrada com tantas maravilhas. O lugar reservado a elas permitia uma magnífica visão do conjunto. O papa presidia, rodeado de cardeais, arcebispos, bispos e uma multidão de sacerdotes, tudo num oceano de cores e de sons que a deixavam assombrada. Lembrou o carnaval do Rio que a televisão levava fielmente, todos os anos, até o coração da mata amazônica onde tinha nascido. Envergonhou-se logo desse pensamento desrespeitoso e procurou concentrar-se no solene rito que se desenvolvia debaixo de seus olhos. Nos primeiros bancos e nos lugares a eles reservados, os membros do Corpo Diplomático e da nobreza romana ostentavam seus trajes de cerimônia, austeros os dos homens, elegantíssimos os das mulheres. Em suas cabines, discretos, mas em plena atividade, os operadores de TV captavam e enviavam para o mundo as imagens que ela observava com seus próprios olhos.
Procurou acompanhar a homilia do papa, mas não conseguiu por muito tempo: conhecia já bastante a língua italiana, mas a pregação lhe resultava difícil.
Lembrou a última Semana Santa passada em sua comunidade, antes de entrar no noviciado. Tinha apenas vinte anos, mas era a líder incontestada do Cabresto, uma comunidade rural distante uns 30 km da sede do município. Não tinha nascido ali, mas ali tinha crescido desde menina. Tinha freqüentado a pobre escola do lugar, com uma única professora que ensinava o pouco que sabia a todos os garotos e garotas dos 6 aos 12 anos. Tinha-se distinguido tanto que, quando a velha professora se mudou para a cidade, com a família, os pais do Cabresto tinham pedido ao prefeito que colocasse ela no lugar. Seu nome de batismo era Olinda, mas todos a tinham sempre chamado Lindinha e também quando se tornou professora, pais e crianças continuaram tratando-a de Lindinha.
Nesse tempo o vigário veio celebrar a Missa no Cabresto. O fazia todos os meses, quando podia. Quis saber se alguém poderia cuidar do catecismo. Todos concordaram que ninguém poderia fazê-lo melhor que ela. Muito jovem, franzina, com um sorriso tímido e a voz doce, era respeitada naturalmente por todos. Participava na paróquia dos cursos de catequese e de formação das lideranças, gostava de ler e procurava manter-se informada o tanto que o isolamento da floresta lhe permitia. O único que não a suportava era o Dr. Vitalino, dono de uma grande fazenda no Cabresto.
Sávio CORINALDESI
Irmã Olinda tinha chegado fazia poucos dias do Brasil para completar seus estudos em Roma e preparar-se para uma das missões da Congregação. Na tarde da Quinta Feira Santa, a superiora perguntou à Irmã Teresa se poderia acompanhar a jovem brasileira em São Pedro, onde tinham conseguido dois ingressos para a Missa do Lava-pés.
A basílica resplandecia de luzes e a irmãzinha estava deslumbrada com tantas maravilhas. O lugar reservado a elas permitia uma magnífica visão do conjunto. O papa presidia, rodeado de cardeais, arcebispos, bispos e uma multidão de sacerdotes, tudo num oceano de cores e de sons que a deixavam assombrada. Lembrou o carnaval do Rio que a televisão levava fielmente, todos os anos, até o coração da mata amazônica onde tinha nascido. Envergonhou-se logo desse pensamento desrespeitoso e procurou concentrar-se no solene rito que se desenvolvia debaixo de seus olhos. Nos primeiros bancos e nos lugares a eles reservados, os membros do Corpo Diplomático e da nobreza romana ostentavam seus trajes de cerimônia, austeros os dos homens, elegantíssimos os das mulheres. Em suas cabines, discretos, mas em plena atividade, os operadores de TV captavam e enviavam para o mundo as imagens que ela observava com seus próprios olhos.
Procurou acompanhar a homilia do papa, mas não conseguiu por muito tempo: conhecia já bastante a língua italiana, mas a pregação lhe resultava difícil.
Lembrou a última Semana Santa passada em sua comunidade, antes de entrar no noviciado. Tinha apenas vinte anos, mas era a líder incontestada do Cabresto, uma comunidade rural distante uns 30 km da sede do município. Não tinha nascido ali, mas ali tinha crescido desde menina. Tinha freqüentado a pobre escola do lugar, com uma única professora que ensinava o pouco que sabia a todos os garotos e garotas dos 6 aos 12 anos. Tinha-se distinguido tanto que, quando a velha professora se mudou para a cidade, com a família, os pais do Cabresto tinham pedido ao prefeito que colocasse ela no lugar. Seu nome de batismo era Olinda, mas todos a tinham sempre chamado Lindinha e também quando se tornou professora, pais e crianças continuaram tratando-a de Lindinha.
Nesse tempo o vigário veio celebrar a Missa no Cabresto. O fazia todos os meses, quando podia. Quis saber se alguém poderia cuidar do catecismo. Todos concordaram que ninguém poderia fazê-lo melhor que ela. Muito jovem, franzina, com um sorriso tímido e a voz doce, era respeitada naturalmente por todos. Participava na paróquia dos cursos de catequese e de formação das lideranças, gostava de ler e procurava manter-se informada o tanto que o isolamento da floresta lhe permitia. O único que não a suportava era o Dr. Vitalino, dono de uma grande fazenda no Cabresto.
O filho da viúva Raquel trouxe uma bandeja com os doces preparados pela mãe, que, porém, não viria porque sua muleta tinha quebrado. Mas Lindinha não se conformou. Chamou um dos jovens:
- Tavico, junta três ou quatro colegas e tragam aqui a senhora Raquel que não pode caminhar.
- Tavico, junta três ou quatro colegas e tragam aqui a senhora Raquel que não pode caminhar.
Pouco tempo depois o grupo fazia a sua solene entrada na capela: quatro jovens seguravam uma robusta vara na qual estava amarrada a rede que trazia a senhora Raquel, radiante.
Agora estavam todos. Isto é, quase todos. O Dr. Vitalino e sua família tinham viajado no sábado para ir passar a Semana Santa em Salinas, a praia da gente fina da capital.
A celebração saiu bonita mesmo. A Lindinha (quero dizer, Irmã Olinda) sente a saudade apertar sua garganta lembrando aquela noite.
Nonato tinha sido particularmente bem sucedido comentando o Evangelho da instituição da Eucaristia, recordando a luta de dois anos antes e tinha-se emocionado relembrando gestos de solidariedade que, a partir de então, transformara o Cabresto numa verdadeira comunidade.
No lava-pés as crianças tinham lavado os pés dos pais, que receberam a homenagem com a maior seriedade. Durante o ofertório foi feita a coleta, cuja arrecadação seria destinada ao Sr. Feitosa, que estava em Belém, ao lado da mulher recém operada. Terminado o culto, os objetos litúrgicos e as toalhas foram guardados no armário e o altar voltou a ser a mesa sobre a qual as mães foram colocando – não sem uma pontinha de orgulho – sua respectiva “janta”.
- “Comeremos todos juntos o que cada uma tiver trazido” era o lema de suas refeições comunitárias.
A novidade daquela noite foi o conteúdo da bandeja da senhora Anália, matriarca da família Neves, recém chegada no Cabresto, de Minas Gerais. Poucos dos presentes conheciam o pão de queijo mineiro, mas a novidade teve sucesso total.
Aí o velho Neves contou como a Semana Santa é celebrada na sua terra. Mais tarde as gêmeas da família Sívori, descendentes de italianos e procedentes do Rio Grande do Sul, cantaram uma canção que os jovens de lá usam enquanto passam, em grupos, de casa em casa para recolher ovos que, devidamente pintados e cozidos, serão comidos após a celebração da noite de Sábado Santo.
A única nota triste foi provocada por ela, Lindinha.
- Como vocês sabem, esta é a última Semana Santa que passo com vocês. No próximo mês deixarei o Cabresto para entrar na casa de formação das Missionárias de Maria.
- Porque vás embora? Es tão preciosa aqui! Ou nós não somos filhos de Deus? - São, sim, senhor Sívori. Veja, acabamos de celebrar a Última Ceia. Nos dissemos que não podemos pensar só em nós. Eu gostaria que também outras pessoas pudessem conhecer as coisas bonitas que o Senhor fez e faz para seus filhos e filhas. Vocês já o sabem.
- E a senhora, Dona Dora, vai deixar sua filha ir embora?
- Senhor Sívori, suas crianças são ainda pequenas. Mas logo vão crescer e o senhor entenderá que os filhos nós os fazemos, com a graça de Deus, mas não são nossos...
Irmã Olinda sente uma forte saudade daqueles momentos tão intensos. Mas a Irmã Teresa a sacode. Chegou o momento da comunhão.
Enquanto avança lentamente na fila, sente-se culpada pela longa distração. Quando chega a sua vez, estende a mão para receber a hóstia, mas o padre, com gesto mecânico, enfia a partícula em sua boca.
De volta ao seu lugar, a emoção das lembranças se transforma num choro suave e melancólico, que procura esconder cobrindo o rosto com as mãos.
Chegam em casa já tarde. As Irmãs que participaram da Missa na paróquia já estão dormindo. Também a Irmã Olinda se retira no seu quarto. Antes de adormecer, ouve a superiora que pergunta à Ir. Teresa:
- E então, nossa brasileirinha gostou da cerimônia?
- Acho que sim. Quando saímos de São Pedro tinha os olhos vermelhos...
- Pode apostar! Lá, no meio do mato uma cerimônia come esta, ela não ia poder nem sonhar.
Agora estavam todos. Isto é, quase todos. O Dr. Vitalino e sua família tinham viajado no sábado para ir passar a Semana Santa em Salinas, a praia da gente fina da capital.
A celebração saiu bonita mesmo. A Lindinha (quero dizer, Irmã Olinda) sente a saudade apertar sua garganta lembrando aquela noite.
Nonato tinha sido particularmente bem sucedido comentando o Evangelho da instituição da Eucaristia, recordando a luta de dois anos antes e tinha-se emocionado relembrando gestos de solidariedade que, a partir de então, transformara o Cabresto numa verdadeira comunidade.
No lava-pés as crianças tinham lavado os pés dos pais, que receberam a homenagem com a maior seriedade. Durante o ofertório foi feita a coleta, cuja arrecadação seria destinada ao Sr. Feitosa, que estava em Belém, ao lado da mulher recém operada. Terminado o culto, os objetos litúrgicos e as toalhas foram guardados no armário e o altar voltou a ser a mesa sobre a qual as mães foram colocando – não sem uma pontinha de orgulho – sua respectiva “janta”.
- “Comeremos todos juntos o que cada uma tiver trazido” era o lema de suas refeições comunitárias.
A novidade daquela noite foi o conteúdo da bandeja da senhora Anália, matriarca da família Neves, recém chegada no Cabresto, de Minas Gerais. Poucos dos presentes conheciam o pão de queijo mineiro, mas a novidade teve sucesso total.
Aí o velho Neves contou como a Semana Santa é celebrada na sua terra. Mais tarde as gêmeas da família Sívori, descendentes de italianos e procedentes do Rio Grande do Sul, cantaram uma canção que os jovens de lá usam enquanto passam, em grupos, de casa em casa para recolher ovos que, devidamente pintados e cozidos, serão comidos após a celebração da noite de Sábado Santo.
A única nota triste foi provocada por ela, Lindinha.
- Como vocês sabem, esta é a última Semana Santa que passo com vocês. No próximo mês deixarei o Cabresto para entrar na casa de formação das Missionárias de Maria.
- Porque vás embora? Es tão preciosa aqui! Ou nós não somos filhos de Deus? - São, sim, senhor Sívori. Veja, acabamos de celebrar a Última Ceia. Nos dissemos que não podemos pensar só em nós. Eu gostaria que também outras pessoas pudessem conhecer as coisas bonitas que o Senhor fez e faz para seus filhos e filhas. Vocês já o sabem.
- E a senhora, Dona Dora, vai deixar sua filha ir embora?
- Senhor Sívori, suas crianças são ainda pequenas. Mas logo vão crescer e o senhor entenderá que os filhos nós os fazemos, com a graça de Deus, mas não são nossos...
Irmã Olinda sente uma forte saudade daqueles momentos tão intensos. Mas a Irmã Teresa a sacode. Chegou o momento da comunhão.
Enquanto avança lentamente na fila, sente-se culpada pela longa distração. Quando chega a sua vez, estende a mão para receber a hóstia, mas o padre, com gesto mecânico, enfia a partícula em sua boca.
De volta ao seu lugar, a emoção das lembranças se transforma num choro suave e melancólico, que procura esconder cobrindo o rosto com as mãos.
Chegam em casa já tarde. As Irmãs que participaram da Missa na paróquia já estão dormindo. Também a Irmã Olinda se retira no seu quarto. Antes de adormecer, ouve a superiora que pergunta à Ir. Teresa:
- E então, nossa brasileirinha gostou da cerimônia?
- Acho que sim. Quando saímos de São Pedro tinha os olhos vermelhos...
- Pode apostar! Lá, no meio do mato uma cerimônia come esta, ela não ia poder nem sonhar.
Sávio Corinaldesi
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009
30 de Setembro - Última quarta feira
Dez convivas, tantos foram os que compareceram ao encontro de ontem, no habitual almoço na Cervejaria "Baleal", à Rua da Madalena, em Lisboa.
Aqui vão já os respectivos nomes para que conste: Robalo, Jacinto Xarrama, Jacinto Latas, José Augusto Guilhoto, José Contreiras, Silva Pinto, Antonino Mendonça, Fernandes, Manuel Mata (Matita) e Noca.
O ambiente estava bom com a mesa rectangular,(3 + 3 nas laterais e 2 + 2 nas cabeceiras), permitindo uma óptima comunicação visual entre todos os comensais. Outro tanto não se puderá dizer relativamente à comunicação verbal devido à dureza dos nossos muito usados ouvidos, cuja acuidade já não tem aquela limpidez que nos caracterizava e o ambiente exigia.
Perderam-se assim alguns pormenores de conversas interessantes: recordo apenas como exemplo a produção verbal do meu principal interlocutor, o Contreiras, que bem se esforçou, mas que eu não percebi nada do que me queria dizer - ía-lhe acenando que sim para não o desiludir, desculpa Zé.
Apesar disso foi muito animado o repasto, onde predominou o polvo "à Lagareiro", uma delícia, e as conversas foram diversas e interessantes, com predomínio para a abordagem à comunicação de Cavaco Silva na noite anterior.
Ninguém teve a coragem ou condão de dizer que percebera o sentido ou mesmo o alcance de tal comunicação, sobretudo porque, dadas as circunstâncias em que foi produzida, pareceu a uns confusa e a outros inconsequente: àqueles porque se limitaram a não perceber o que o sr queria dizer na sua; a estes porque, a ser assim, só haveria duas saídas, a saber: ou o homem resignava ou corria com tão "malfadado governo". Ora nada disso aconteceu e a montanha pariu um rato, tornando tudo ainda mais confuso.
Sabemos que nada disso poderia ter acontecido, primeiro porque homem tão determinado não desiste de "salvar" a pátria e para correr com o governo teria de dissolver o Parlamento, o que seria um acto inútil e desnecessário uma vez que o povo soberano já elegeu outra configuração parlamentar.
A dada altura, a propósito do nome do Mendonça, pai do "Frei Bernardo", disse-se que "Antonino" era um nome isótico e que havia muito poucos com esse nome, mas alguém recordou existir um bispo com tal nome. Não se sabendo quem era o bispo assim chamado, lá tivemos de recorrer à nossa "episcopédia", o Robalo, que prontamente esclareceu tratar-se do bispo de Portalegre-Castelo Branco, cuja cátedra ocupa há x anos e antes fora auxiliar do bispo do Porto.
Terminado o almoço, deambulámos pela Praça da Figueira, Rua da Betesga, Rossio, São Domingos e Portas de Santo Antão, não perdendo o ponto principal de referência, a Casa do Alentejo. Embora nem lá entremos, há qualquer coisa de mítico nesta nossa relação com aquela Casa: é ali que nos encontramos e é dali que dispersamos - é como se fossemos ao Alentejo e voltássemos.
Alguns mais apressados foram aos seus destinos, mas um pequeno grupo, a que se juntou o amigo Lourenço entretanto aparecido, continuou no cavaqueio, pela Rua do Coliseu e Sociedade de Geografia, até uma cervejaria com esplanada de rua onde sentámos arraiais numa tertúlia ad hoc para abordagem de outros assuntos, tendo chegado à conclusão que é possível haver um monárquico republicano que, sendo comunista, votou no PSD. Coisas!!!...
Perspectiva-se para a próxima última quarta feira de Outubro uma ida até Coimbra, dependendo das diligências que o Guilhoto vai encetar no sentido de acomodar a logística necessária para que tudo decorra bem.
E pronto todos foram aos seus destinos, até ao fim de Outubro.
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