segunda-feira, 28 de abril de 2008

Correspondência do "Impossível" Aranha, via Ocupadíssimo Tubal

Caro Túbal,
Enquanto não estiver curado das 'bicadas do Campos', não o quero enfrentar, pelo que te nomeio ( estou a passar as marcas, tu és mais velho' e o respeitinho é necessário), rectifico, peço-te que reenvies este mail ao dito senhor.1955, Salvada,limitada pelo 'dormitório' de Beja e povoada por parasitas que fugiam ao trabalho pelos mais diversos motivos :estudar, servir a Pátria nos quartéis ou noutro sítio qualquer, zelar pelo Bem Estar do Estado Novo ( apesar de ter já quase 30 anos), servidores de todo o feitio...mas servidores de quem? Talvez esteja a ver isto tudo ao contrário - a vida é um grande puzle, onde as peças de baixo têem que aguentar as de cima!? E lá estavam aqueles muros para me encaixar, num caixote maior que era Beja...igualzinha de ano para ano. Encaixar, digo bem, eu que vinha de uma terra sem muros, de campos que não tnham fim, de andar todo o dia por lá...descalço (atirava as botas pelo postigo da porta), gozando uma liberdade sem limites e rentabilizando ao máximo o 'investimento'feito, no esforço de imaginação da fuga, porque a sova, essa, era certa ao chegar, no mais final do dia... esquecia-me de Odemira, perto de Porto Côvo, de Zambujeira (sabiam que era a praia dos tesos?, quando se queria magoar alguém , dizia-se, fôste para a Zambujeira ou para a praia da Messejana). Vivi mais tarde esta região : Porto Côvo, , Vila Nova de Milfontes umas alternativas, de quebra de férias, a Fátima...lá dormíamos na Escola, lá enfrentavamos as ondas, lá encontrei uma casca de lagosta...é duro mas é bom...lá vivia no pânico permanente de ver aparecer na crónica diária , que tinha feito xixi na cama, aos 14 anos...eu que em casa não tinha tal deslize! Hoje percebo.Pois é Campos, tu eras mais velho, tinhas um ar afirmativo e respeitável, como todos os mais velhos...os que já tinham provado a sua resistência até ali e era preciso ser grande...
Da meditação para a missa, da missa, em duas alas, para a camarata...fazer a cama e logo a mim me calhou aquela sala transformada em caserna: 40, sempre vigiados por um prefeito, de nome José Pires.Não quero lembrar mais.Prefiro recordar o filho do Sr. Gulbenkian, que tem o mérito de ter sido livre, ao ponto do pai o 'deserdar', mas por sina do destino, acabou por ser ele a renunciar à fortuna do pai, senão não teríamos hoje a Fundação Gulbenkian entre nós. São conhecidas as suas extravagâncias, não foi o caso do Campos ao comprar aquele descapotável de 2 lugares.Conta-se que verificando que uma certa senhora se encontrava na paragem do autocarro a certa hora do dia, e de forma continuada, um dia parou e lhe disse que a levava a casa. Ela agradeceu,mas que estava à espera do autocarro... no dia seguinte, parou um autocarro e de dentro, tal filho perguntou à dita senhora, se ela desejava ir de autocarro...não sei o seguimento...só que é original. Desconheço a que própósito veio a história, mas se o Campos autorizar, um dia conto...mas não será por vingança ...
Fico por aqui

Silvestre Aranha

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