Boas Vindas ao José Ramos que já comentou por várias vezes.
Não deixem de visitar os comentários, onde surgirão certamente surpresas interessantes, como já acontece com os coments do Amigo José Ramos que todos conhecem como o Piloto mais audaz que foi, da nossa Força Aérea.
Prà frente que atràs vem gente, Companheiro!
O Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Beja, foi o alfobre onde nasceram e cresceram muitos amigos, hoje espalhados por este Portugal imenso, dando à sociedade o seu melhor.
sábado, 29 de março de 2008
sexta-feira, 28 de março de 2008
Apelo aos visitantes
Eu sei que vocês vem visitar o blog, mas não sei a opinião que tem sobre o mesmo e o que aqui se apresenta.
Por isso apelo a todos, simpatizantes ou não, que deixem os vossos comentários: se forem favoráveis, deixar-me-ão feliz e incentivado para continuar, se forem desfavoráveis, ajudar-me-ão a corrigir o que estiver mal ou a justificar as minhas posições. Daí resultará alguma coisa de positivo. É a dialectica: tese, antítese e síntese.
Cá vos espero!
Por isso apelo a todos, simpatizantes ou não, que deixem os vossos comentários: se forem favoráveis, deixar-me-ão feliz e incentivado para continuar, se forem desfavoráveis, ajudar-me-ão a corrigir o que estiver mal ou a justificar as minhas posições. Daí resultará alguma coisa de positivo. É a dialectica: tese, antítese e síntese.
Cá vos espero!
quinta-feira, 27 de março de 2008
Última quarta feira de Março
Compareceram poucos mas bons! Pelos frutos conhecereis as árvores.
Os indefectíveis: Fernando (Matateu), Lourenço (Professor)e Silva Pinto (sociólogo), não dispensam a nossa companhia e nós gostamos da companhia deles. São sempre bem vindos.
Dos "nossos" compareceram sete valentes, sempre prontos para atacar as pataniscas de bacalhau. E portaram-se bem: o arroz de grêlos estava uma delícia! Não foi na Granja Velha, porque estava cheia, mas no Bessa ao lado e da mesma organização: trata-se de uma excelente cervejaria, com nome feito, e que é sucedânea de uma carvoaria de galego. Mas tá-se bem!
O Jacinto Latas (Pratas), estava bem disposto contando as peripécias da sua neta, a Rita; O outro Jacinto, o Charrama, sempre revoltado porque não fazem o plebiscito para implantar a monarquia - ainda havemos de o ver conde ou coisa que o valha; o Xico Robalo tambem muito feliz a relatar os feitos do neto portuga/irlandês; o Xico Acabado sempre muito observador e introspectivo, continua com o computador por ligar; o Zé Contreiras com seu boné de cavaleiro, delicia-nos com discursos sempre bem urdidos e encanta-nos com as teorias mais avançadas sobre gestão e condução de pessoal, no sentido de obter os melhores resultados empresariais; o José Augusto (dos Anjos) Guilhoto, (Doutor), que não desiste de aprender, (pois não é que está a frequentar um curso de aperfeiçoamento de inglês, a que se dedica com afinco?); finalmente o Nobre de Campos, já trôpego e velhinho, este vosso amigo, que muito preza a vossa companhia.
Não compareceram: o Guardado, perdido no nevoeiro das praias do Algarve; o Mata que me atendeu de Nova Delli, (bom regresso companheiro!); e o Túbal, ausente de Lisboa e ainda a recuperar do susto que teve com um AVCzinho, (boa recuperação camarada!).
O impossível Silvestre Ralha Aranha não dá sinal já há duas rodadas, o FVLourenço, o sobrinho do tio, tambem prometeu aparecer, mas nada; finalmente o Antonino Mendonça que costuma vir de muito longe e estará ocupado com os aprontos do "filho", compreendemos e justificamos a sua ausência.
A ginginha e o eduardinho não estavam maus: depois da propaganda que lhe fez a ASAE, é um corropio!
Adeus amigos até 30 de Abril!
Os indefectíveis: Fernando (Matateu), Lourenço (Professor)e Silva Pinto (sociólogo), não dispensam a nossa companhia e nós gostamos da companhia deles. São sempre bem vindos.
Dos "nossos" compareceram sete valentes, sempre prontos para atacar as pataniscas de bacalhau. E portaram-se bem: o arroz de grêlos estava uma delícia! Não foi na Granja Velha, porque estava cheia, mas no Bessa ao lado e da mesma organização: trata-se de uma excelente cervejaria, com nome feito, e que é sucedânea de uma carvoaria de galego. Mas tá-se bem!
O Jacinto Latas (Pratas), estava bem disposto contando as peripécias da sua neta, a Rita; O outro Jacinto, o Charrama, sempre revoltado porque não fazem o plebiscito para implantar a monarquia - ainda havemos de o ver conde ou coisa que o valha; o Xico Robalo tambem muito feliz a relatar os feitos do neto portuga/irlandês; o Xico Acabado sempre muito observador e introspectivo, continua com o computador por ligar; o Zé Contreiras com seu boné de cavaleiro, delicia-nos com discursos sempre bem urdidos e encanta-nos com as teorias mais avançadas sobre gestão e condução de pessoal, no sentido de obter os melhores resultados empresariais; o José Augusto (dos Anjos) Guilhoto, (Doutor), que não desiste de aprender, (pois não é que está a frequentar um curso de aperfeiçoamento de inglês, a que se dedica com afinco?); finalmente o Nobre de Campos, já trôpego e velhinho, este vosso amigo, que muito preza a vossa companhia.
Não compareceram: o Guardado, perdido no nevoeiro das praias do Algarve; o Mata que me atendeu de Nova Delli, (bom regresso companheiro!); e o Túbal, ausente de Lisboa e ainda a recuperar do susto que teve com um AVCzinho, (boa recuperação camarada!).
O impossível Silvestre Ralha Aranha não dá sinal já há duas rodadas, o FVLourenço, o sobrinho do tio, tambem prometeu aparecer, mas nada; finalmente o Antonino Mendonça que costuma vir de muito longe e estará ocupado com os aprontos do "filho", compreendemos e justificamos a sua ausência.
A ginginha e o eduardinho não estavam maus: depois da propaganda que lhe fez a ASAE, é um corropio!
Adeus amigos até 30 de Abril!
terça-feira, 25 de março de 2008
Almoço comunitário
Amanhã é a última quarta feira de Março. Vamo-nos reunir em convívio o grupo habitual dos ex-de Beja.
Se estiverem de acordo vamos comer pataniscas de bacalhau: bem feitinhas na Granja Velha.
Se estiverem de acordo vamos comer pataniscas de bacalhau: bem feitinhas na Granja Velha.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Semana Santa - Páscoa
Período muito importante na vida da Igreja e portanto tambem da Diocese de Beja e seu Seminário.
Nesta altura conferia o bispo as ordens aos seminaristas em final de curso ou próximos disso, coincidindo com a vinda a Beja dos alunos de filosofia e teologia que se encontravam nos seminários maiores de Almada e Olivais ou Évora.
Para os novos era ocasião de grande curiosidade: o comportamento daquelas "estrelas" era observado ao pormenor pelos alunos mais novos, que se anteviam já trajando daquela maneira, (sotaina debroada e faixa vermelha), e interpretando a música sacra com a perfeição com que eles o faziam. Recordo, como primeira ordenação, a de um holandês que foi prior nas minas do Lousal ou coisa parecida. Mais tarde veio o Padre Zé Guerreiro e depois seria a grande e importante remessa de cinco num só ano: Virgílio, Lobato, Martins e Bernardo e ainda o Viegas que viria a desistir.
As cerimónias da semana santa eram muito pungentes e exaltantes no seu final e marcaram muito todos os que se sujeitaram a elas em anos consecutivos.
As férias só começavam depois do almoço de Domingo de Páscoa e aí, começava outra odisseia para chegar às terras de origem de cada um.
BOA PÁSCOA A TODOS!!!
Nesta altura conferia o bispo as ordens aos seminaristas em final de curso ou próximos disso, coincidindo com a vinda a Beja dos alunos de filosofia e teologia que se encontravam nos seminários maiores de Almada e Olivais ou Évora.
Para os novos era ocasião de grande curiosidade: o comportamento daquelas "estrelas" era observado ao pormenor pelos alunos mais novos, que se anteviam já trajando daquela maneira, (sotaina debroada e faixa vermelha), e interpretando a música sacra com a perfeição com que eles o faziam. Recordo, como primeira ordenação, a de um holandês que foi prior nas minas do Lousal ou coisa parecida. Mais tarde veio o Padre Zé Guerreiro e depois seria a grande e importante remessa de cinco num só ano: Virgílio, Lobato, Martins e Bernardo e ainda o Viegas que viria a desistir.
As cerimónias da semana santa eram muito pungentes e exaltantes no seu final e marcaram muito todos os que se sujeitaram a elas em anos consecutivos.
As férias só começavam depois do almoço de Domingo de Páscoa e aí, começava outra odisseia para chegar às terras de origem de cada um.
BOA PÁSCOA A TODOS!!!
quinta-feira, 20 de março de 2008
Saudação Pascal
UBI CARITAS ET AMOR,
DEUS IBI EST!
CONGREGAVIT NOS IN UNUM,
CHRISTI AMOR!
CESSENT JURGIA MALIGNA,
CESSENT LITES!
DEUS IBI EST!
CONGREGAVIT NOS IN UNUM,
CHRISTI AMOR!
CESSENT JURGIA MALIGNA,
CESSENT LITES!
terça-feira, 18 de março de 2008
Apelo Pascal
Kadè os outros? O Companheiro Túbal já se apresentou por duas vezes, e os outros, kadè eles?
O Franacisco Vaz Lourenço deu algumas esperanças, mas foi só fumaça.
Estamos ansiosos por saber notícias vossas. Apareçam e tragam outros amigos também.
Cumps para todos e Feliz Páscoa!
Campos
O Franacisco Vaz Lourenço deu algumas esperanças, mas foi só fumaça.
Estamos ansiosos por saber notícias vossas. Apareçam e tragam outros amigos também.
Cumps para todos e Feliz Páscoa!
Campos
sábado, 15 de março de 2008
Colaboração do Amigo Manuel Túbal
Amigo Campos,
Gostei desta descrição,embora a minha seja em tudo diferente.A razão da minha entrada neste blog tem a ver com a amizade, que após muitos anos sem nos vermos,fomos capazes de solidificar
Por outro lado quero aproveitar para prestar a minha homenagem a uma figura de referência e a quem muito devo, pois teve toda a influência para que eu entrasse no Seminário e que foi Mons.Joaquim Costa Correia.Este HOMEM marcou-me sobretudo pela sua dedicação aos jovens trabalhadores de Moura
através da JOC,movimento a que muito devo e que me "empurrou", para que hoje possa estar no mundo
de uma forma empenhada e ao serviço dos outros, na construção de"uma cidade onde seja possivel ao homem realizar-se plenamente como ser humano,criado à imagem de Deus e restabelecido na sua transcendente dignidade por Jesus Cristo".
Quero eu dizer com isto tudo, que é importante recordarmos o passado,mas não é menos importante vermos, até que ponto esse passado,influenciou ou influencia as nossas vidas de homens empenhados, na defesa da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos.
Brevemente partilharei convosco neste blog, outros apontamentos.
Desejo uma santa Páscoa extensiva às vossas famílias.
Manuel Túbal
Gostei desta descrição,embora a minha seja em tudo diferente.A razão da minha entrada neste blog tem a ver com a amizade, que após muitos anos sem nos vermos,fomos capazes de solidificar
Por outro lado quero aproveitar para prestar a minha homenagem a uma figura de referência e a quem muito devo, pois teve toda a influência para que eu entrasse no Seminário e que foi Mons.Joaquim Costa Correia.Este HOMEM marcou-me sobretudo pela sua dedicação aos jovens trabalhadores de Moura
através da JOC,movimento a que muito devo e que me "empurrou", para que hoje possa estar no mundo
de uma forma empenhada e ao serviço dos outros, na construção de"uma cidade onde seja possivel ao homem realizar-se plenamente como ser humano,criado à imagem de Deus e restabelecido na sua transcendente dignidade por Jesus Cristo".
Quero eu dizer com isto tudo, que é importante recordarmos o passado,mas não é menos importante vermos, até que ponto esse passado,influenciou ou influencia as nossas vidas de homens empenhados, na defesa da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos.
Brevemente partilharei convosco neste blog, outros apontamentos.
Desejo uma santa Páscoa extensiva às vossas famílias.
Manuel Túbal
1948 (Continuação) - A Primeira Odisseia
Após um período de preparação psicológica, (mentalização para o internamento de que nem havia consciência) e física, (aquisição e arrumo do enxoval com predominância do fatinho preto com chapéu “à cavaleiro”, uma vez que não havia ainda direito ao chapéu de “coco”, e de que faziam parte elementos como as fronhas e toalhas de higiene pessoal, passando pelas meias, cuecas e camisolas e lençóis, tudo marcado com o número pré atribuído, “42”, até à escova de dentes); após essa preparação, chegou o dia das despedidas. A mais notável, foi a despedida do Avô Zé Francisco, um venerando velhinho de 82 (?) anos, muito exigente com os filhos e para os netos bastante forreta, pois não se descaía com qualquer gorgeta , por mínima que fosse. Mas agora foi diferente, o neto ía estudar, e então lá saiu uma notinha de 20 mil réis para acudir aos precisos. Por isso disse que foi uma despedida notável, (meteu uma nota), sou claro.
Para quem tinha comprado, anos antes, uma propriedade a produzir 200 arrobas de cortiça por ano, por "48 mil réis e uma tigela de farinha de milho todos os anos", assim reza a escritura de compra e venda, dar agora 20 mil réis ao neto não foi coisa de somenos. Bem hajas Avô Zé Francisco Pereira!
Mas vamos à odisseia: o objectivo era chegar a Beja a partir de São Teotónio, o que em 1948, não era tarefa fácil.
Até Odemira sabíamos que havia uma camioneta matreira do “ABEL FIGUEIREDO LUIS”, e havia um comboio de correio passando pela estação de Odemira que dista 30 Km daquela vila, que levaria a Beja. Como seriam percorridos esses trinta quilómetros de curvas por terreno muito acidentado, entre Odemira e a estação da CP?
Felizmente o meu companheiro, José Pincho, tinha uma irmã, Eugénia, professora regente em Entradas, que também viajava nessa altura para dar início às aulas: foi a nossa companheira e guia, até Beja.
Como o comboio levava o correio, havia uma ligação de Odemira à estação por carroça de bestas, para alcançar o correio da vila e suas freguesias. Nada melhor que aproveitar esse meio e viajarmos também até ao comboio: meu dito, meu feito.
Pelas oito da noite, já escuro, saímos de Odemira naquela geringonça e cedo descobrimos que facilmente batíamos com as cabeças no toldo da carroça, sobretudo quando um solavanco maior fazia abanar a estrutura geral do veículo.
Entramos na rotina do andamento e, esgotados os assuntos de conversa, apareceram as primeiras sonolências próprias da repetição das coisas. Agora sim as cabeçadas no toldo da geringonça já eram espontâneas e corriqueiras, sem necessidade dos solavancos do caminho irregular. De vez em quando ouvíamos o carreiro incitando as muares batendo-lhes com as arreatas nas ilhargas ou com o chicote, para que se apressassem, não fosse o comboio vir adiantado.
Chegamos à Estação de Odemira, (hoje Luzeanes-Gare) por volta da meia-noite, depois de bem amassados e batidos com tudo quanto era carroça.
Era uma noite escura, sem lua nem estrelas a brilhar: seria mau agoiro? Nem pensávamos nisso. A expectativa da novidade não permitia tais locobrações.
Finalmente lá apareceu o comboio, um monstro de ferro a chispar lume nos carris, a assobiar e a fazer muito barulho, mas cujas dimensões os candeeiros a petróleo não permitiam avaliar. Entrados no comboio veio a tarefa de arrumar as malas naquelas altas prateleiras com rede e ocupar os lugares disponíveis antes que outro se adiantasse.
Aí vamos nós a caminho do túnel de Vale de Iscas o mítico túnel de que já ouvíramos falar pelos assaltos que ali se fizeram, até ao comboio, nas décadas anteriores. Depressa atingimos a Funcheira, entroncamento da linha do Sado, onde ainda se apregoavam as bilhas de água fresca, seria uma da manhã do dia seguinte a termos saído de São Teotónio pela meia tarde anterior.
Entramos na rotina sonolenta duma viagem sem fim, com as costumeiras cabeçadas naqueles bancos horríveis que não paravam de abanar.
Depois de percorrida toda a planície alentejana, aí pelas seis da manhã, surgiu no horizonte alvoroçado a silhueta da cidade de Beja, enquanto atravessávamos os gordos barros de região, tão genialmente descritos por Manuel Ribeiro. Em breve o despontar do sol tornaria mais nítidos os contornos do Castelo e do Depósito da água, as duas únicas construções que saíam do perfil horizontal arredondado da cidade. Contornamos a cidade pelo noroeste, por uma linha já inexistente e atingimos a estação, muito movimentada. Com a luz do dia, podíamos agora admirar a grandeza daquela máquina que nos trouxe - o comboio que antes nunca víramos.
E agora, o último quilómetro e meio, como irá ser? A cauda é sempre o pior de esfolar! Arrastando uns malarrões, só agora se via bem o seu tamanho e peso, fizemos aquele íngreme troço da estação até ao jardim, junto ao seminário velho, admirando o polícia sinaleiro que àquela hora da manhã, já ocupava a sua pianha, na bifurcação junto ao jardim das Portas de Moura. Madrugada, pensávamos nós, eram talvez nove e tal e choviscava, após dias de chuva intensa. Pois é, daquele canto norte do jardim público até ao Seminário, pela actual Avenida Dom Afonso Henriques, foi o pior trajecto que já fiz, em toda a minha vida: o piso, isto é, o leito da rua era aquele barro escuro, completamente empapado devido às chuvas que já referi e era sulcado por carroças agrícolas de toda a espécie, (ainda não havia tractores), que deixavam suas marcas, regos cheios de água e lama por todo o lado. Resumindo: chegamos com o fatinho preto todo castanho devido à lama que chegava aos joelhos.
Mas valeu a pena: finalmente chegamos!
Para quem tinha comprado, anos antes, uma propriedade a produzir 200 arrobas de cortiça por ano, por "48 mil réis e uma tigela de farinha de milho todos os anos", assim reza a escritura de compra e venda, dar agora 20 mil réis ao neto não foi coisa de somenos. Bem hajas Avô Zé Francisco Pereira!
Mas vamos à odisseia: o objectivo era chegar a Beja a partir de São Teotónio, o que em 1948, não era tarefa fácil.
Até Odemira sabíamos que havia uma camioneta matreira do “ABEL FIGUEIREDO LUIS”, e havia um comboio de correio passando pela estação de Odemira que dista 30 Km daquela vila, que levaria a Beja. Como seriam percorridos esses trinta quilómetros de curvas por terreno muito acidentado, entre Odemira e a estação da CP?
Felizmente o meu companheiro, José Pincho, tinha uma irmã, Eugénia, professora regente em Entradas, que também viajava nessa altura para dar início às aulas: foi a nossa companheira e guia, até Beja.
Como o comboio levava o correio, havia uma ligação de Odemira à estação por carroça de bestas, para alcançar o correio da vila e suas freguesias. Nada melhor que aproveitar esse meio e viajarmos também até ao comboio: meu dito, meu feito.
Pelas oito da noite, já escuro, saímos de Odemira naquela geringonça e cedo descobrimos que facilmente batíamos com as cabeças no toldo da carroça, sobretudo quando um solavanco maior fazia abanar a estrutura geral do veículo.
Entramos na rotina do andamento e, esgotados os assuntos de conversa, apareceram as primeiras sonolências próprias da repetição das coisas. Agora sim as cabeçadas no toldo da geringonça já eram espontâneas e corriqueiras, sem necessidade dos solavancos do caminho irregular. De vez em quando ouvíamos o carreiro incitando as muares batendo-lhes com as arreatas nas ilhargas ou com o chicote, para que se apressassem, não fosse o comboio vir adiantado.
Chegamos à Estação de Odemira, (hoje Luzeanes-Gare) por volta da meia-noite, depois de bem amassados e batidos com tudo quanto era carroça.
Era uma noite escura, sem lua nem estrelas a brilhar: seria mau agoiro? Nem pensávamos nisso. A expectativa da novidade não permitia tais locobrações.
Finalmente lá apareceu o comboio, um monstro de ferro a chispar lume nos carris, a assobiar e a fazer muito barulho, mas cujas dimensões os candeeiros a petróleo não permitiam avaliar. Entrados no comboio veio a tarefa de arrumar as malas naquelas altas prateleiras com rede e ocupar os lugares disponíveis antes que outro se adiantasse.
Aí vamos nós a caminho do túnel de Vale de Iscas o mítico túnel de que já ouvíramos falar pelos assaltos que ali se fizeram, até ao comboio, nas décadas anteriores. Depressa atingimos a Funcheira, entroncamento da linha do Sado, onde ainda se apregoavam as bilhas de água fresca, seria uma da manhã do dia seguinte a termos saído de São Teotónio pela meia tarde anterior.
Entramos na rotina sonolenta duma viagem sem fim, com as costumeiras cabeçadas naqueles bancos horríveis que não paravam de abanar.
Depois de percorrida toda a planície alentejana, aí pelas seis da manhã, surgiu no horizonte alvoroçado a silhueta da cidade de Beja, enquanto atravessávamos os gordos barros de região, tão genialmente descritos por Manuel Ribeiro. Em breve o despontar do sol tornaria mais nítidos os contornos do Castelo e do Depósito da água, as duas únicas construções que saíam do perfil horizontal arredondado da cidade. Contornamos a cidade pelo noroeste, por uma linha já inexistente e atingimos a estação, muito movimentada. Com a luz do dia, podíamos agora admirar a grandeza daquela máquina que nos trouxe - o comboio que antes nunca víramos.
E agora, o último quilómetro e meio, como irá ser? A cauda é sempre o pior de esfolar! Arrastando uns malarrões, só agora se via bem o seu tamanho e peso, fizemos aquele íngreme troço da estação até ao jardim, junto ao seminário velho, admirando o polícia sinaleiro que àquela hora da manhã, já ocupava a sua pianha, na bifurcação junto ao jardim das Portas de Moura. Madrugada, pensávamos nós, eram talvez nove e tal e choviscava, após dias de chuva intensa. Pois é, daquele canto norte do jardim público até ao Seminário, pela actual Avenida Dom Afonso Henriques, foi o pior trajecto que já fiz, em toda a minha vida: o piso, isto é, o leito da rua era aquele barro escuro, completamente empapado devido às chuvas que já referi e era sulcado por carroças agrícolas de toda a espécie, (ainda não havia tractores), que deixavam suas marcas, regos cheios de água e lama por todo o lado. Resumindo: chegamos com o fatinho preto todo castanho devido à lama que chegava aos joelhos.
Mas valeu a pena: finalmente chegamos!
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