Era meu propósito desenvolver uma matéria, como adrede agora se diz, sobre o silênco e a repressão pelo silêncio, mas felizmente e em boa hora, fui ultrpassado. É que o "FREI BERNARDO" tem lá tudo ou quase tudo, e dito de uma maneira que nos deixa estupefactos: o "Carlos" fala mesmo bem e desembaraçado.
Lembra ele aquelas meditações matinais, dirigidas monocordicamente por um director espiritual umas vezes aterrorizador, outras com laivos de poeta ascético, nomeadamente quando se referia a Teresa d'Ávila ou à outra Teresinha que era de Lisieuz, mas que apelidaram do Menino Jesus.
Lembra ainda os trajectos em formatura de ordem unida, das camaratas para a Capela, desta para o refeitório, daqui para as salas de estudo, destas para o recreio e depois para as aulas ao som da "cabra" amiga, que tambem nos dava o sinal para acordar, bem cedo, pelas seis da manhã.
Lá estão aqueles retiros de meio dia ou os outros de três dias sem falar. Diziam que no silêncio se fala com Deus, mas que Deus(?), que não permite perguntas e menos dá respostas?
Para fazer as palestras dos retiros, (dirigir o retiro), normalmente eram convidados ou convocados padres especialmente dotados para o efeito. Recordo um cónego que veio de Lisboa e um outro que veio de Leiria ou Fátima: dotados de grande poder de persuasão e grande espírito de abnegação, fundamentando a sua exposição em termos muito emocionais e escatológicamente dirigidos, facilmente conduziam o rebanho ao seu redil.
O que posso dizer mais? -Leiam o FREI BERNARDO!
1 comentário:
Tenho a certeza de que se a Igreja Católica tivesse evoluído como devia,hoje não teria falta de sacerdotes,como se queixa.
Muitos de nós saímos porque tudo aquilo nos cheirava a mofo:
os monitores,os professores,os hábitos,o ensino... e tudo nos
cheirava a balofo e velho.
Os tempos tinham mudado,mas a Igreja continuava a ensinarnos obscuridades e mantina os velhos princípios e hábitos que
já estavam ultrapassados há muito tempo.
Foi a conclusão a eu que eu cheguei
sózinho porque a Seminário era uma casa fechada ao "Mundo".
A minha saída voluntária foi uma das primeiras grandes decisões da minha vida,porque a minha juventude fora alí passada entre "quatro paredes" e num ambiente medieval.
Hoje,ainda admiro o acto de coragem que foi a apresentação ao Vice-Reitor Monsenhor Torrão do meu desejo de sair e mudar de vida.
Recebeu-me com desusada afabilidade que me espantou e foi impecável e até extremamente compreensível.
Mas qual não foi o meu espanto quando ele me perguntou o que eu sabia de alguns seminaristas meus maiores amigos e quiz que lhe dissesse coisas da sua vida privada.
Essa atitude que eu percebi logo até onde ele queria ir,achei pidesca e insultuosa.
Imediatamente descobri a razão porque me havia recebido com tanta afabilidade e me facilitara tudo,dizendo-me que se eu me "arrependesse" que lhe telefonasse pois iria para o Seminário de Évora.
Agradeci-lhe sua tão grande "abertura e generosidade" e percebi logo que o que ele pretendia era que denunciasse companheiros e amigos meus e traísse a nossa amizade.
Achei que era uma vergonhosa atitude.
Se eu tivesse ido na conversa alguns dos meus maiores amigos teriam saído sem saberem qual o motivo da sua explulsão.
A minha desconfiança e sagacidade fez-me compreender logo até onde ele queria chegar e em vez de denúncias ele só me ouviu elogios a esses amigos e companheiros que sempre estimei e que depositavam em mim toda a confiança.
Saí com a certeza de que tinha enfiado o barrete ao astuto sacerdote,que desabafando disse "assim fico mais descansado".
E eu saí pensando: "já consegui enfiar o barrete" ao padre que se julgava tão sagaz e inteligente,mas que um simples e humilde seminarista,jovem de 18 anos com apenas 5 anos de Seminário soubera enganar.
E foi assim que no dia 11 de Setembro de 1946,sem me poder despedir de ningém,pelas 08H00 eu saí para ser um Homem livre.
J.Contreiras
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